O PROCESSO DE BOLONHA E A INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO NA UNIVERSIDADE: ENTREVISTA COM JOSEP M. BLANCH
Lucídio Bianchetti
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LB - Agora você está falando das consequências do Processo de Bolonha na pós-graduação?
JMB - Não somente na pós-graduação. Também na graduação. Professores e alunos devemos fazer mais com menos tempo e com os mesmos recursos materiais, humanos e técnicos. Por exemplo, temo-nos convertido em professores - pesquisadores e também em magisters -, monitores, em professores que dão aulas magistrais durante o dia, e passamos as noites, os weekends e as férias "tutorizando" alunos desorientados, adeptos do Google. E fazemos tudo isso, ademais, com a impressão de que nos falta tempo em dois sentidos: nos falta tempo para fazer o trabalho e nos falta tempo para fazer bem o trabalho. E, portanto, há aí um problema de "má consciência profissional": trabalhando de dia e de noite, não faço o trabalho que tenho que fazer e não faço bem o trabalho que devo fazer. Um duplo motivo de intranquilidade como trabalhadores, associada à consciência de não estar cumprindo um dever moral de fazer bem todo o trabalho. E isto é um problema que passou pela primeira fase de individualização, isto é, "eu não sei gerenciar bem o meu tempo e nem minha carga de trabalho". Mas, depois, se descobre que é um problema generalizado e crescente entre todos os colegas implicados neste tipo de trabalho de educação superior e de um determinado grau de implicações e de responsabilidades institucionais. Então, estamos nisso. [...] nos encontramos cada vez mais dominados por um sistema que nos exige muito e nos concede muito pouco e que nos coloca permanentemente em conflito. Conflito entre o que nos mandam fazer e o que consideramos que deveríamos fazer; conflito entre os fins formativos e os meios logísticos; conflito na organização do próprio tempo como professores, pesquisadores, tutores e pessoas humanas e cidadãos com vida privada e familiar. O novo sistema de organização e de gestão converte-nos em administradores do nosso trabalho. Nossa relação com a universidade, com o Estado, com as entidades que financiam a pesquisa, com os colegas e com os estudantes é cada vez mais burocrática. Temos uma sobrecarga de trabalho na forma de tarefas administrativas que passamos, a cada dia, uma maior proporção do nosso tempo preenchendo papéis, papéis e certificados, respondendo a questionários, alimentando bases de dados insaciáveis, as quais, quanto mais informação lhes damos, mais nos exigem. Por outro lado, a demanda dos estudantes é cada vez mais exigente, mais diversa e mais complexa. Exigem bolsas de estudo; exigem cartas de recomendação; certificados de avaliação; exigem sessões virtuais ou acompanhamento virtual e, como a vida é muito cara e a maior parte dos nossos orientandos são alunos que moram muito tempo nos seus países de origem (não espanhóis), muito trabalho presencial é substituído por trabalho virtual. Neste contexto, nem sempre se produzem os efeitos de uma combinação virtuosa de trabalho virtual e dos necessários efeitos do trabalho presencial, cara a cara, olhando nos olhos, tocando-se o braço, animando-se, tomando café - café real, não café virtual! Então, muitos dos efeitos positivos do trabalho tradicional até os anos de 1980 se estão perdendo pela falta de tempo, de condições, de espaço para compartilhar. E isso gera, de um lado, ambivalências com o novo sistema e, por outro lado, o que se chama "nostalgia acadêmica" daqueles longos almoços, com prolongados cafés, nos quais, entre colegas, éramos solidários e intercambiávamos informações, ideias, livros etc. Eu me lembro de, há muitos anos, quando tínhamos poucos livros e precisávamos fazer muitas viagens a Paris, Londres, para buscar livros. Eu ia com uma mochila. E como conhecia os temas de interesse dos meus colegas, trazia livros para mim, mas também para todos os colegas. E, de outra parte, todos traziam livros para mim. Porque todos conheciam meus campos de interesse, sobre que temática estava lendo, pesquisando, publicando e ninguém tinha problemas de competitividade comigo para dizer: "Não, este vai competir comigo para uma bolsa ou o que quer que seja". Agora, a gente acaba sabendo o que faz um colega, vizinho de sala, em um congresso internacional ou entrando no Google. Porém, não temos tempo para tomar um café...
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