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terça-feira, 7 de maio de 2013

Homenagem a Edmundo Dias e Leonel Itaussu

Com muito pesar, marxismo21 lamenta o desaparecimento, em menos de três dias, de dois acadêmicos que – na melhor tradição do marxismo clássico – aliaram, de forma consequente, a teoria de Marx e o engajamento político radical.  Nas palavras de Ruy Braga e Osvaldo Coggiola, cujos textos seguem abaixo, EDMUNDO FERNANDES DIAS e LEONEL ITAUSSU DE ALMEIDA MELLO, generosas e solidárias figuras humanas, foram exemplares marxistas revolucionários.
 Editores de Marxismo21

EDMUNDO FERNANDES DIAS


Acabo de receber a notícia da morte de Edmundo Fernandes Dias. Estou arrasado. Perdi um grande amigo, um mestre insuperável e um exemplo político. Edmundo foi amigo de uma generosidade realmente inigualável. Estilo agregador, sempre buscou extrair o melhor de cada um, apoiando nossos diferentes projetos como alguém que está sempre torcendo a favor.

Como mestre, ele foi daqueles que deixam marcas profundas em nossa trajetória. Sarcástico, incisivo e brincalhão, suas aulas eram sempre desafiadoras e Edmundo sabia transformar certezas em dúvidas como ninguém. Esta é a principal lição que retive das muitas que colhi como seu aluno e discípulo. Questionar, questionar e questionar. E quando estiver exausto: questione mais um pouco, só por garantia…

Mas, gostaria de rememorar seu exemplo. Como sabemos, ele foi um dos maiores estudiosos brasileiros do pensamento do dirigente revolucionário e líder histórico do comunismo italiano, Antonio Gramsci. Sua interpretação dos escritos pré-carcerários do sardo, reeditada no volume Gramsci em Turim: a construção do conceito de hegemonia (Xamã, 2000), alimentou toda uma vertente interpretativa que, entre fins dos anos 1970 e início dos anos 1990, recusou-se a ver na obra do genial sardo uma interpretação filo-idealista da cultura europeia. À época, como hoje em dia, desejávamos trazer Gramsci pra pensarmos a política brasileira, as lutas de classes na semiperiferia e a estratégia socialista mais adequada para o país. Ler mais

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LEONEL ITAUSSU DE ALMEIDA MELLO
Nasceu em Olímpia, interior de São Paulo. Tinha antepassados libaneses. Jovem, deslocou-se à capital para estudar, e se incorporou à militância na ALN (Aliança Nacional Libertadora). Foi preso pelo regime militar, torturado no DOI-CODI, conheceu a chamada “cadeira do dragão”. A tortura na boca com eletricidade lhe fez perder todas as obturações molares. Manteve sequelas físicas da tortura durante toda sua vida, como aconteceu com tantos, que nada dizem a respeito. Nunca pediu indenização. Esteve na prisão durante um ano, aproximadamente. Novamente livre, foi professor do cursinho da Equipe, a partir de 1974, e concluiu estudos de advocacia na USP (São Francisco), profissão que nunca exerceu, e também de Ciências Sociais, na mesma USP. Fez Mestrado em Sociologia Política, e doutorado em Ciência Política. Era também Pós-Doutor pela Universidade da Califórnia (Berkeley). Docente do Departamento de Ciência Política (FFLCH) da USP, eu o conheci nos debates sobre a unidade da FFLCH dos anos 1990, em que se destacou defendendo a unidade da faculdade, com a força intelectual e a fogosidade oratória que lhe eram características. Já era Professor Titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, cargo obtido em concurso de concorrência acirrada.

Com Luiz César Amad Costa, seu colega de trabalho, de estudo, e grande amigo, escreveu textos didáticos de história moderna e contemporânea, de grande difusão. E, dentre outros livros, publicou: Argentina e Brasil: A Balança de Poder No Cone Sul (São Paulo: Hucitec, 2012, última edição); Quem tem medo de Geopolítica? (São Paulo: Hucitec, 2012, última edição); A Geopolítica do Brasil e a Bacia do Prata (São Paulo: Hucitec, 2012, última edição). Não fez “carreira política”, não almejou cargos governamentais e parlamentares, carreira para o qual lhe sobravam fibra e condições intelectuais e não lhe faltavam oportunidades de todo tipo; preferiu dedicar-se à pesquisa e à docência na universidade pública, e à luta junto aos trabalhadores e os movimentos sociais desde essa posição. Era orador excepcional, dispensava microfones quando enfrentava auditórios, graças ao volume da sua voz e à sua forte personalidade. Prendia a atenção do público pela erudição e pela lógica contundente de suas argumentações, e enfrentava com elegância todos os debates políticos, nos quais ouvia com atenção e educação os argumentos contrários ou divergentes. Foi, por isso, presença indispensável nos congressos e simpósios que organizamos no Departamento de História da USP (suas intervenções estão, felizmente, gravadas). Estava previsto que falasse na abertura do próximo simpósio, Um Mundo em Convulsão, a ser realizado a 8 e 9 de outubro p.f.

Sua generosidade pessoal era ímpar. Ler mais

Fonte: Marxismo21

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