Ione Rochael com o monge budista Ademar Sato, que participou da Audiência Pública |
Fiocruz desfaz finalmente quatro anos de mentiras da INB
por Zoraide Vilasboas*
28/05/2013
Como é bom quando podemos
comemorar vitórias! E esta, além de ser um importante passo para garantir a
saúde de populações, tem um gostinho particularmente especial, na medida em que
é também uma vitória sobre a arrogância. Zoraide Vilasboas já usou quase todos
os adjetivos que eu teria empregado com prazer, do pomposo ao infame, sem
esquecer a manipulação da informação. A maior prova da derrota da INB pode ser
verificada clicando nos links dos dois artigos citados abaixo: nesta tarde do
dia 28 de maio, pelo menos, eles estão fora do ar, com a informação de que
foram retirados. Viva pois a luta! Viva a turma de Caetité! Minha colaboração
aos adjetivos de Zoraide vai nos tags desta matéria. (Tania Pacheco)
Por Zoraide Vilasboas*
A representante da Comissão
Paroquial de Meio Ambiente de Caetité (Bahia), Ione Rochael, denunciou à
Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, em Brasília, mais um crime
cometido pela Indústrias Nucleares do Brasil –INB, que chegou ao absurdo de
contratar uma “pesquisa”, para calçar com falsos argumentos “científicos” as
mentiras que vem usando na tentativa de convencer os brasileiros de que a
exploração do urânio não causa câncer.
A comunicação de que a INB agiu
cruelmente, de má fé, chegando a contratar essa pesquisa, em 2008, apenas para
dar como cumprida uma condicionante do licenciamento ambiental, que obriga
aquela estatal a fazer o monitoramento da saúde dos trabalhadores e das
populações do entorno da mina de urânio, causou grande impacto junto aos
participantes da Audiência Pública que debateu, na quarta-feira (22.05.13), A
Situação da Energia Nuclear Pós-Rio+20.
Pesquisa alimenta desinformação
A pesquisa, coordenada pelo
pesquisador da FIOCRUZ Arnaldo Lassance Cunha, tem um título pomposo: ’’Estudo
epidemiológico de mobi-mortalidade relativo à eventual ocorrência de patologias
relacionadas a danos genéticos e neoplasias malignas na área de influência de
Unidade de Concentrado de Urânio (URA), das Indústrias Nucleares do Brasil
(INB)-Caetité no Estado da Bahia’’. Mas serviu a objetivo bem infame. Desde o
momento da contratação, o estudo foi questionado pela Secretaria de Saúde do
Estado da Bahia, CESAT, Ministério Público Federal e movimentos sociais e
populares da região porque tinha abrangência limitada e metodologia suspeita.
Durante quase quatro anos,
usando dados parciais do estudo, a INB mentiu para a Bahia, para o Brasil,
patrocinando na imprensa regional e estadual propaganda enganosa, manipulando
informações, com manchetes desastrosas, tipo “Pesquisa Cientifica Comprova: Mineração de Urânio não aumentou casos de Câncer”, ou “FIOCRUZ comprova: Urânio não provocou aumento de casos de câncer’’’, sem que se conheça qualquer
manifestação contrária, por parte do pesquisador, ao uso que a contratante
fazia do seu trabalho.
E “durante quase três anos –
afirmou Ione – movimentos e entidades sociais e populares, com o apoio da
Plataforma DHESCA Brasil (Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais), dirigiram vários ofícios à Direção da FIOCRUZ e ao seu Conselho de
Ética, perguntando se de fato essa pesquisa tinha o aval da FIOCRUZ e se a
instituição considerava eticamente correto os resultados parciais do estudo
serem usados para ludibriar a boa fé das pessoas da região”. O silêncio da
direção da FIOCRUZ era preocupante. A
tal ponto que a socióloga Marijane Lisboa, da PUC/SP, disse para o presidente
da FIOCRUZ, publicamente, durante a Cúpula dos Povos, ano passado, no Rio de Janeiro,
que era necessário a instituição se pronunciar diante de um assunto tão grave
que envolvia a “credibilidade”’ da FIOCRUZ e a segurança das populações e do
meio ambiente na Bahia.
FIOCRUZ desmonta a farsa
Finalmente, prosseguiu Ione,
“em abril deste ano a direção da FIOCRUZ desmontou essa fraude, essa
manipulação criminosa do ‘uso indevido’ desta ‘pesquisa’ e nos informou que o
Grupo de Trabalho Permanente constituído para assessorar a Presidência na
avaliação do estudo concluiu que o trabalho era meramente ‘EXPLORATÓRIO e
INCONCLUSIVO’”.
A seguir, Ione leu um trecho do
ofício da FIOCRUZ:
“Após deliberações técnicas, o
GT concluiu que o referido estudo possui um caráter exploratório e
inconclusivo. Portanto, não permite estabelecer inferências sobre a relação
entre a exposição à radiação ionizante (tanto em níveis naturais locais como
decorrentes das atividades de extração e concentração de urânio) e seus
impactos no perfil de morbi-mortalidade, ou mais especificamente sobre a
mortalidade por câncer, na área de influência da Unidade de Concentrado de
Urânio (URA) em Caetité-Ba. Dessa forma, consideramos inapropriadas matérias de
divulgação pública que, baseadas no estudo em questão, afirmem que a atividade
mineradora na região não cause impactos à saúde da população potencialmente
exposta”.
Os movimentos e entidades
sociais e populares de Caetité já enviaram cópia do ofício da FIOCRUZ aos
diversos órgãos de regulação e fiscalização das atividades nucleares e também
aos Ministérios Públicos Federal e Estadual e Ministério Público do Trabalho, onde
correm ações judiciais, nas quais a INB, Comissão Nacional de Energia Nuclear,
IBAMA, Governo da Bahia e Prefeituras de Caetité e Lagoa Real são rés. A
expectativa das populações da região é grande com as providências que se espera
de cada órgão público envolvido no caso e aguardam a urgente apuração dos fatos
e responsabilização dos autores pelos crimes praticados.
* Coordenadora de Comunicação da Associação Movimento Paulo Jackson – Ética,
Justiça, Cidadania.
Fonte: Blog
de Tânia Pacheco
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