Baixos salários são principal causa de pedidos de exonerações dos mestres
Maria Luisa de Melo*
14/05/2013
Pagando salários menores do que os da Prefeitura do Rio de
Janeiro, e de pelo menos cinco municípios da Baixada Fluminense, a rede pública
estadual do Rio assiste a uma debandada de professores no início deste ano. Só
nestes cinco primeiros meses, 308 mestres concursados pediram exonerações.
Outros 504 se aposentaram. Ou seja, 812 mestres estão fora da rede. O déficit
de profissionais, segundo a Secretaria estadual de Educação, no entanto, é de
cerca de 800.
A principal causa apontada para os pedidos de demissão trata
dos baixos salários - R$ 1001 de salário inicial bruto, por 16 horas de
trabalho. De acordo com dados do Sindicato dos Profissionais da Educação
(Sepe), a média de pedidos de demissão na rede é de 2,5 por dia. Levando-se em
conta o número de profissionais que se aposentam, a média aumenta para 6,76.
O problema, segundo os dados, não é exclusividade da rede
estadual. No caso da Secretaria Municipal de Educação, o número de mestres que
pediram desligamento de janeiro a maio é ainda maior: 514. No segundo semestre
do ano passado, o município se viu às voltas com 1.270 pedidos deste tipo.
Concursado do governo do estado em 2010, o professor de
Biologia Eduardo Moraes, 28 anos, decidiu abandonar a rede estadual e passar a
trabalhar em Mesquita, na Baixada Fluminense. A intenção era aumentar seus
rendimentos em R$ 520. "Em 2010, no Rio, eu ganhava R$ 880. Na Prefeitura
de Mesquita, passei a ganhar R$ 1400. Como eu moro em Benfica, na Zona Norte, a
mudança me exigiu um certo esforço de deslocamento, mas está valendo a
pena".
Professores reivindicam aumento salarial na rede estadual de
ensino
Professores reivindicam aumento salarial na rede estadual de
ensino
Eduardo é um dos milhares de mestres que acumula mais de uma
matrícula. Ou seja, trabalha para a Prefeitura de Mesquita e também para a
Prefeitura do Rio de Janeiro. "O vale-transporte que o governo do estado
me pagava não cobria as minhas despesas de deslocamento para o trabalho. Isso
acontece principalmente com aqueles professores que trabalham em mais de uma
escola. Este foi mais um dos motivos pelos quais decidi abandonar a rede
estadual. É muito trabalho para pouco dinheiro", destaca.
O biólogo aponta ainda outras vantagens de se trabalhar fora
da capital: "Na rede municipal de educação da Baixada, as turmas tem
limite de 30 alunos. Já na rede estadual, o limite oficial é de 60. Isso
significa que as turmas na Baixada são menos cheias e é possível trabalhar
melhor", aponta.
Professora do Ciep Pablo Neruda, no Jardim Catarina, em São
Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, Maria Beatriz Lugão Rios diz que o
fato de os novos professores concursados serem chamados apenas em meados do ano
piora ainda mais a situação da classe.
"Os concursados, chamados pelo governo no meio do ano,
tem que se encaixar nas turmas já formadas. Ou seja, um professor de Filosofia
que é contratado para 12 horas por semana tem que lecionar em 12 turmas
distintas já que cada turma tem direito a um tempo de aula desta disciplina.
Assim, é comum um professor com apenas uma matrícula acumular aulas em mais de
uma escola. O grande problema é que o vale-transporte é para apenas um colégio,
né? Assim, o professor desembolsa parte de sua despesa com transporte",
critica.
Contratações não acompanham saída
Enquanto a saída de profissionais da rede só neste início de
ano foi de 812 mestres, as contratações são exatamente a metade: só 406
professores foram chamados este ano para trabalhar na rede estadual.
Gratificações para diminuir déficit
Para suprir o déficit de professores, a Secretaria estadual
de Educação lançou mão de uma gratificação que praticamente dobra os
rendimentos dos mestres. Para isso, os professores também tem carga horária
dobrada. Com a chamada "gratificação por lotação prioritária", houve
diminuição da carência por professores na rede. Segundo a Secretaria estadual
de Educação, a carência de profissionais veio reduzindo desde 2010, quando
chegava a 12 mil
Adolescentes não tem Riocard há três meses
No Colégio Estadual Vilma Atanásio, em Campo Grande, na Zona
Oeste da cidade, as dificuldades vão além da falta de professores da rede
estadual de ensino. Muitos estudantes - cerca de 50 - ainda não possuem o
cartão Riocard, que dá acesso livre aos estudantes da rede pública. Alguns
deixaram a escola, enquanto outros contam com a boa vontade dos motoristas para
entrar pela por traseira.
Fonte:
Jornal do Brasil
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