Professor da Universidade Estadual de Goiás e dirigente do PCB – GO relata
a truculência da Polícia Militar no Estado de Goiás.
Aos dois dias do mês de julho
do corrente ano participei de manifestação organizada pelo movimento de greve
da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Professores e Estudantes da
Universidade Federal de Goiás (UFG), Estudantes Secundaristas e moradores da Cidade
de Goiás. A concentração da manifestação iniciou-se as 19:00hs na praça do
Chafariz, logo após a chegada dos primeiros manifestantes, algumas viaturas da
polícia militar estacionaram próximo aos manifestantes. Alguns minutos depois
policiais militares a paisana foram, por nós identificados, infiltrados entre
os manifestantes. Por volta das 20:30hs iniciamos o que denominou-se uma
“marcha fúnebre” das promessas de campanha não executadas pelo atual governador
do estado. Ao caminharmos uma centena de metros nos deparamos com uma barreira
da polícia militar que impediu nossa passagem. Algumas pessoas que participavam
da passeata (marcha fúnebre), expressaram pelo microfone de um carro de som seu
descontentamento com a postura da PM e a marcha seguiu seu curso por outro
caminho, agora ampliada por centenas de moradores que aderiram ao protesto.
Caminhando pelas ruas, vielas e becos da histórica Vila Boa, evitando as
barreiras policiais, e já sem o carro de som e utilizando megafone e
amplificador portátil, chegamos próximo ao Palácio Conde dos Arcos, local da
abertura oficial do Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA), onde nos
deparamos com mais uma barreira policial, esta reforçada pelo policiamento de
farda preta (CPT). Em frente ao Palácios proferimos inúmeras “palavras de
ordem” em favor da melhoria do atendimento à saúde e pela qualidade da
educação, entre outros temas, denunciamos as promessas não cumpridas pelo
governo do estado, bem como seu envolvimento com o “bicheiro” conhecido como Carlinhos
Cachoeira. Neste momento, fomos interpelados pelo Oficial da polícia militar
Coronel Moura, que nos informou que estava “sendo pressionado para evacuar a
área” e que este pretendia faze-lo sem o uso da força e da violência.
Explicamos ao coronel que a manifestação não dispunha de nenhuma liderança que
estabelecesse uma ordem de dispersão ou outra ordem que fosse e que
necessitaríamos de tempo para dialogar com os participantes do protesto. Em
rápida conversa coletiva ficou decidido que não iríamos sair do local e nos
manteríamos ali de forma pacífica e para demonstrar tal intenção ficaríamos
todos sentados. Segundos após sentarmos avistamos o pelotão de choque da Polícia
Militar em rápido deslocamento, o que já assustou algumas pessoas, provocou
inquietação e iniciou uma correria. Surpreendentemente alguns policiais
avançaram sobre o caixão utilizado pelo protesto tentando extraí-lo dos
manifestantes, o mesmo ocorrendo com as faixas, cartazes, megafone e
amplificador. Deflagrada a violência policial que usou e abusou de spray de
pimenta e cassetetes, vários integrantes do protesto foram deliberadamente
agredidos e detidos arbitrariamente, sem nenhuma acusação formal ou
informalmente apontada. Neste instante, presenciando a agressão de policiais
que vitimava um estudante secundarista, tentei ajuda-lo puxando seu corpo para
fora da roda de policiais que lhe aplicavam chutes, socos e golpes de
cassetete, minha tentativa foi frustrada, pois fui, atacado pelas costas por um
golpe de “gravata”, que desequilibrou meu corpo. Instantaneamente fui cercado
por vários outros policiais que de forma truculenta, desrespeitosa e com uso
desmedido e desproporcional de força mesmo sem qualquer esboço de reação de
minha parte. Fui algemado com as mão nas costas e com a mesma truculência encaminhado
para a parte de traz da Igreja Matriz, onde fui forçado a sentar no chão
cercado por policiais. Presenciei a chegada de várias pessoas algemadas e
machucadas, entre elas o Professor Alexandre da UFG, o Estudante Bruno da UEG e
o Estudante secundarista Diogo. Mesmo após a tentativa de advogados argumentarem
a inexistência da necessidade de manter-nos algemados a PM assim nos manteve.
No momento em que fui levado a viatura policial os advogados tentaram
argumentar, que não haveria, também, a necessidade de sermos conduzido no porta-malas
da viatura (um carro do tipo gol), pois não oferecemos em momento algum
qualquer tipo de resistência. Tal sugestão se quer foi ouvida e de forma
agressiva fui empurrado para o porta mala da viatura ouvindo claramente o comentário
sarcástico do policial: “vou te mostrar o direito do professor na
constituição”, uma clara retaliação a várias intervenções feitas no microfone
da passeata, onde clamávamos pela execução e garantia do legítimo direito
constitucional de manifestação.
Na delegacia de policia fiquei,
com outros companheiros, por horas algemado com tentativas da sargento PM de
retirar advogados do recinto, com o intuito de nos manter isolados e sem
atendimento jurídico até ser ouvido pela polícia civil e em seguida liberado.
Perdi a noção de tempo, mas já se fazia alta madrugada quando fui liberado.
Ainda continuo desconhecendo o motivo de minha detenção, nada me foi alegado, o
que me faz levar em consideração a hipótese que no estado de Goiás, o estado de
direito e a carta constitucional são letras mortas. Vivemos em um estado de
sítio não declarado, o que ocorreu comigo é uma pequena demonstração do que se
repete diariamente com a juventude pobre da periferia, mais violentada ainda,
por não disporem de atendimento jurídico, apesar de a lei determinar.
Fonte: PCB-GO
Fonte: PCB-GO
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