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quinta-feira, 4 de julho de 2013

ROBSON DE SOUSA MORAES: RELATO DE MINHA PRISÃO



Professor da Universidade Estadual de Goiás e dirigente do PCB – GO relata a truculência da Polícia Militar no Estado de Goiás.

Aos dois dias do mês de julho do corrente ano participei de manifestação organizada pelo movimento de greve da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Professores e Estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG), Estudantes Secundaristas e moradores da Cidade de Goiás. A concentração da manifestação iniciou-se as 19:00hs na praça do Chafariz, logo após a chegada dos primeiros manifestantes, algumas viaturas da polícia militar estacionaram próximo aos manifestantes. Alguns minutos depois policiais militares a paisana foram, por nós identificados, infiltrados entre os manifestantes. Por volta das 20:30hs iniciamos o que denominou-se uma “marcha fúnebre” das promessas de campanha não executadas pelo atual governador do estado. Ao caminharmos uma centena de metros nos deparamos com uma barreira da polícia militar que impediu nossa passagem. Algumas pessoas que participavam da passeata (marcha fúnebre), expressaram pelo microfone de um carro de som seu descontentamento com a postura da PM e a marcha seguiu seu curso por outro caminho, agora ampliada por centenas de moradores que aderiram ao protesto. Caminhando pelas ruas, vielas e becos da histórica Vila Boa, evitando as barreiras policiais, e já sem o carro de som e utilizando megafone e amplificador portátil, chegamos próximo ao Palácio Conde dos Arcos, local da abertura oficial do Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA), onde nos deparamos com mais uma barreira policial, esta reforçada pelo policiamento de farda preta (CPT). Em frente ao Palácios proferimos inúmeras “palavras de ordem” em favor da melhoria do atendimento à saúde e pela qualidade da educação, entre outros temas, denunciamos as promessas não cumpridas pelo governo do estado, bem como seu envolvimento com o “bicheiro” conhecido como Carlinhos Cachoeira. Neste momento, fomos interpelados pelo Oficial da polícia militar Coronel Moura, que nos informou que estava “sendo pressionado para evacuar a área” e que este pretendia faze-lo sem o uso da força e da violência. Explicamos ao coronel que a manifestação não dispunha de nenhuma liderança que estabelecesse uma ordem de dispersão ou outra ordem que fosse e que necessitaríamos de tempo para dialogar com os participantes do protesto. Em rápida conversa coletiva ficou decidido que não iríamos sair do local e nos manteríamos ali de forma pacífica e para demonstrar tal intenção ficaríamos todos sentados. Segundos após sentarmos avistamos o pelotão de choque da Polícia Militar em rápido deslocamento, o que já assustou algumas pessoas, provocou inquietação e iniciou uma correria. Surpreendentemente alguns policiais avançaram sobre o caixão utilizado pelo protesto tentando extraí-lo dos manifestantes, o mesmo ocorrendo com as faixas, cartazes, megafone e amplificador. Deflagrada a violência policial que usou e abusou de spray de pimenta e cassetetes, vários integrantes do protesto foram deliberadamente agredidos e detidos arbitrariamente, sem nenhuma acusação formal ou informalmente apontada. Neste instante, presenciando a agressão de policiais que vitimava um estudante secundarista, tentei ajuda-lo puxando seu corpo para fora da roda de policiais que lhe aplicavam chutes, socos e golpes de cassetete, minha tentativa foi frustrada, pois fui, atacado pelas costas por um golpe de “gravata”, que desequilibrou meu corpo. Instantaneamente fui cercado por vários outros policiais que de forma truculenta, desrespeitosa e com uso desmedido e desproporcional de força mesmo sem qualquer esboço de reação de minha parte. Fui algemado com as mão nas costas e com a mesma truculência encaminhado para a parte de traz da Igreja Matriz, onde fui forçado a sentar no chão cercado por policiais. Presenciei a chegada de várias pessoas algemadas e machucadas, entre elas o Professor Alexandre da UFG, o Estudante Bruno da UEG e o Estudante secundarista Diogo. Mesmo após a tentativa de advogados argumentarem a inexistência da necessidade de manter-nos algemados a PM assim nos manteve. No momento em que fui levado a viatura policial os advogados tentaram argumentar, que não haveria, também, a necessidade de sermos conduzido no porta-malas da viatura (um carro do tipo gol), pois não oferecemos em momento algum qualquer tipo de resistência. Tal sugestão se quer foi ouvida e de forma agressiva fui empurrado para o porta mala da viatura ouvindo claramente o comentário sarcástico do policial: “vou te mostrar o direito do professor na constituição”, uma clara retaliação a várias intervenções feitas no microfone da passeata, onde clamávamos pela execução e garantia do legítimo direito constitucional de manifestação.

Na delegacia de policia fiquei, com outros companheiros, por horas algemado com tentativas da sargento PM de retirar advogados do recinto, com o intuito de nos manter isolados e sem atendimento jurídico até ser ouvido pela polícia civil e em seguida liberado. Perdi a noção de tempo, mas já se fazia alta madrugada quando fui liberado. Ainda continuo desconhecendo o motivo de minha detenção, nada me foi alegado, o que me faz levar em consideração a hipótese que no estado de Goiás, o estado de direito e a carta constitucional são letras mortas. Vivemos em um estado de sítio não declarado, o que ocorreu comigo é uma pequena demonstração do que se repete diariamente com a juventude pobre da periferia, mais violentada ainda, por não disporem de atendimento jurídico, apesar de a lei determinar.
Fonte: PCB-GO

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