Quatro em cada dez alunos que iniciam uma graduação voltada à formação de professores não chegam ao fim do curso no Paraná
Publicado em 19/07/2013
FELIPPE ANIBAL
Quase 40% dos alunos que
iniciam alguma licenciatura no Paraná não chegam a se formar. Todo ano, em
média, 15,3% desistem dos cursos, voltados principalmente à formação de
professores para a educação básica (ensinos fundamental e médio). Os dados,
levantados pelo Instituto Lobo com base no Censo Escolar, revelam a dificuldade
que é formar novos docentes e como a sala de aula está longe de ser capaz de
atrair esses profissionais.
“Não há estímulo. A carreira
não atrai, o salário não atrai. Isso tem impacto direto na qualidade da
educação. Em algumas regiões, alunos da educação básica estão há anos sem aulas
de ciências por falta de professores”, avalia o presidente do Instituto Lobo,
Roberto Leal Lobo.
Nas faculdades, alunos estão
desmotivados
No segundo semestre de 2010,
Alice Mara de Freitas, hoje com 20 anos, começou a cursar Física na
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTPFR) com o nobre sonho de
lecionar. Mas as fracas perspectivas salariais a fizeram deixar de lado as
fórmulas e experimentos. Desestimulada, abandonou a graduação. “O curso é muito
pesado. Então, seria um esforço muito grande para uma remuneração pequena que
eu teria depois de formada. Vi que não valeria a pena”, conta. Hoje, Alice
cursa Informática Biomédica na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Já Andressa Alves de
Oliveira, de 25 anos, está no último ano de Letras na Universidade Tuiuti do
Paraná. Porém, ao sentir na pele a desvalorização a que os professores estão
relegados na rede pública, ela tem dúvidas se vai para a sala de aula após se
formar. “Durante o estágio, fiquei completamente desiludida com a indisciplina
e desrespeito dos alunos. Tive dúvidas se há como mudar isso”, lamentou.
Desinteresse
Metade dos alunos de
licenciatura não sabe se vai lecionar
Mesmo para os alunos de
licenciatura que não abandonam o curso, a carreira de professor parece não ser
tão atrativa. O desinteresse é comprovado na dissertação de mestrado, concluída
no ano passado, da pesquisadora Luciana França Leme, da Universidade de São Paulo
(USP). Ela ouviu universitários de licenciaturas da instituição e descobriu que
quase a metade não quer ou tem sérias dúvidas se vai lecionar após concluir o
curso.
Em Física, 47,5% dos
universitários não querem ou não sabem se querem ser professores. No curso de
Matemática, o índice chega a 45,2%. Em Pedagogia, o problema é um pouco menor:
24,3% dos alunos não sabem ou não querem ir para sala de aula depois da
formatura.
“Os resultados indicam que é a
profissão [professor de ensino básico] que não tem sido atrativa. É preciso
segurar essa metade dos alunos que querem lecionar e criar estímulos para essa
parcela que está desmotivada e quer ir para a sala de aula”, diz Luciana.
A fuga da sala de aula não se
restringe ao Paraná. Em todos os estados, o índice de evasão é considerado
alto. De acordo com a média nacional, 48% dos alunos de licenciatura não chegam
a se formar. A cada ano, 19,6% desistem do curso.
O mapeamento nacional mostra
índices preocupantes em todas as áreas de conhecimento. Em Física, a taxa de
evasão anual é de 26,4% e mais de 60% dos alunos não chegam a terminar o curso.
Entre quem cursa literatura estrangeira, 24,5% desistem a cada ano e quase 57%
saem da faculdade antes de pegar o diploma.
O desempenho em alguns cursos
de instituições paranaenses supera a média do país. Na Universidade Estadual de
Londrina (UEL), o índice de evasão – calculado entre 1992 e 2011 – chega a 56%
em Matemática e em Física, ambos do período noturno. Os mesmos cursos também
obtiveram as maiores taxas na Universidade Estadual de Ponta Grossa: 69% em
Matemática e 40% em Física (dados de 2013). A reportagem também consultou
outras três universidades públicas do Paraná, mas elas não tinham os dados
compilados até o fechamento desta edição.
Sinal vermelho
O governo do Paraná criou um
fórum para tratar do problema e tentar reverter a falta de atratividade da
licenciatura. A Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) está
compilando dados de evasão nas instituições e identificando gargalos para, a
partir deste diagnóstico, definir políticas para o setor.
O chefe da assessoria de
planejamento de ensino superior da Seti, Décio Sperandio, adianta que as ações
terão três focos: os alunos que ainda não ingressaram na licenciatura (para
atraí-los a esses cursos); os que já estão cursando (com objetivo de evitar a
evasão); e os já formados (para que continuem se capacitando). “Há um certo
desinteresse pela licenciatura. Então, vamos desenvolver algumas estratégias
para atrair novos professores e mantê-los em sala de aula. Para isso, é preciso
valorizar a educação básica e a carreira de professor”, disse.
Baixos salários afugentam
futuros docentes ainda no curso
O bolso é um dos fatores que
mais espantam os candidatos a professor da educação básica. Para especialistas,
a baixa remuneração não só desestimula os alunos de licenciaturas a seguirem
nos cursos, como faz com que migrem para outras áreas ou à iniciativa privada.
No Paraná, um professor com licenciatura plena recebe remuneração inicial de R$
1.112 por 20 horas semanais de trabalho, segundo a APP Sindicato.
Para a doutoranda em educação,
Luciana França Leme, da Universidade de São Paulo (USP), os governos precisam
lidar com o problema de forma integrada, traçando metas de melhoria para curto,
médio e longo prazos. “Mas a primeira medida é aumentar o salário. É fazer com
que o docente se sinta valorizado. Tem estados que sequer pagam o piso. É
inadmissível”, disse.
Para Maria Helena Guariente,
diretora de apoio à ação pedagógica da UEL, as universidades têm se mexido para
amenizar o problema, por meio da adesão a programas de incentivo à permanência
na licenciatura. “O salário desmotiva, então precisamos buscar alternativas de
rever esse processo, para dar boa formação aos alunos e evitar que eles deixam
a licenciatura”, disse.
Bolsas
Uma dessas alternativas é o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Lançada em
2009 pelo governo federal, a iniciativa oferta bolsas de R$ 400 a alunos de
licenciatura, para desenvolvimento na área. No Paraná, dez instituições
públicas aderiram ao projeto. Unidade que mais mantêm bolsas pelo Pibid, a UEL
tem 720 alunos beneficiados.
“É muito parecido com a
residência médica, porque o bolsista fica em uma escola, vivenciando aquela
instituição e desenvolvendo atividades. Os resultados têm sido muito bons”,
disse o professor Sérgio Arruda, coordenador do Pibid na UEL.
INFOGRÁFICOS: Índices são preocupantes em todas as áreas
Fonte: Gazeta
do Povo
Trabalho em três municípios e percebo que, cada vez mais, colegas de trabalho simplesmente abandonam o magistérios e voltam para as universidades a procura de outros cursos ou vão trabalhar em outros setores, mais lucrativos e profissionalmente compensadores.
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