A prova do Enem vazou de novo: nota zero para ele
Pelo terceiro ano consecutivo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não passou no teste de confiança dos alunos de todo o país. Enquanto o ministro da Educação, Fernando Haddad, defende o fim do vestibular e a adoção da prova do Enem como porta de entrada para o ensino superior, cerca de 4 milhões de candidatos que realizaram o teste no último fim de semana estão novamente frustrados diante das falhas na organização. Os mais prejudicados, por enquanto, serão os 639 estudantes do colégio Christus, em Fortaleza, que terão as provas canceladas. A decisão foi anunciada ontem pelo Ministério da Educação (MEC) após reconhecer que um simulado feito pelo colégio particular pouco tempo antes do Enem continha nove questões idênticas às apresentadas no teste.
Semanas antes da realização do Enem, Haddad defendeu a universalização da prova como medidor de qualidade para o ensino médio. Segundo ele, o Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita no Congresso Nacional, prevê que o exame se torne um componente do currículo e, portanto, obrigatório para os alunos. O ministro, inclusive, afirmou exaustivamente que o exame não corria riscos, apesar das falhas nas edições anteriores. “O Brasil está dando um passo importante para aprimorar seu sistema de avaliação de ensino”, disse Haddad, cinco dias antes da aplicação do teste. A edição deste ano era tida como decisiva, principalmente em um momento em que o ministro é pré-candidato à prefeitura de São Paulo.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, contratou o Inmetro para acompanhar cada etapa da produção das provas no intuito de garantir a segurança do exame. A empresa de gestão de riscos Módulo, com atuações nas eleições presidenciais do ano passado, também participou do processo. Depois de driblar a greve dos Correios e aplicar a prova sem grandes incidentes no último fim de semana, o MEC chegou a respirar aliviado. Mas não conseguiu evitar novas falhas na prova.
Descrédito
Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Amábile Pacios afirmou ontem que o Enem está cada vez mais desacreditado, principalmente entre os inscritos. “Eu lamento muito esse ocorrido. Mais um ano o Enem provou que não é confiável”, argumentou. “É frustrante demais para esses alunos que se prepararam o ano todo. É um descaso com o futuro deles”.
A denúncia de vazamento começou a circular, na última terça-feira, nas redes sociais — Face book e Twitter —, depois que um estudante publicou, em seu perfil, fotos das questões presentes nas apostilas distribuídas pelo colégio Christus. O MEC confirmou que as questões a que os alunos da escola particular tiveram acesso antecipado vazaram do pré-teste, aplicado em outubro do ano passado pelo Inep. Anualmente, a entidade aplica provas para alunos de diferentes escolas do país, selecionados aleatoriamente, para comprovar o nível de dificuldade dos itens formulados. Depois de testadas, elas podem fazer parte do banco de itens de onde saem as questões do Enem.
Em nota, a escola de Fortaleza afirmou que as questões batem com o seu banco de dados e sugeriu que elas podem ter entrado no sistema de perguntas da instituição por sugestão de alunos que fizeram pré-testes, “sem o conhecimento da escola no que diz respeito à origem desses dados”. A Polícia Federal foi acionada para apurar o caso. Segundo o MEC, nos próximos dias, o Inep vai entrar em contato com os alunos que tiveram a prova cancelada e oferecer a possibilidade de eles refazerem as provas em 28 e 29 de novembro, quando a população carcerária deverá realizar o exame.
Alunos do Christus, que é considerado um dos principais grupos educacionais de Fortaleza, confirmaram que receberam apostilas em um simulado com exercícios idênticos aos cobrados no Enem. Analisando as questões do exame e das apostilas do colégio, foram detectadas cinco questões idênticas de ciências da natureza, duas questões iguais às de matemática e duas iguais às de ciências humanas. Na prova de linguagem, há uma questão repetida. O MEC, porém, só confirmou a repetição de nove questões. O restante, segundo o ministério, é similar.
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