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quarta-feira, 20 de março de 2013

CARTA ABERTA AOS ESTUDANTES DA UNICAMP


EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA E DEMOCRÁTICA


Há décadas a UNICAMP vem sendo submetida a políticas que têm por objetivo o ajuste da universidade às exigências do capital e aos imperativos do colonialismo cultural. O fenômeno faz parte de um processo mais geral de mercantilização e precarização do conhecimento e ameaça gravemente a universidade pública brasileira. O aprofundamento e a aceleração desse movimento nos últimos anos explicam a conversão da universidade num grande negócio e, como consequência, a escalada de iniciativas para criminalizar as lutas em defesa da universidade pública e de seu pessoal - estudantes, funcionários e professores.
A Unicamp vive uma dessas conjunturas particulares em que o processo de mudança atinge o ponto de ebulição e pequenas alterações quantitativas provocam grandes transformações qualitativas. A continuidade radicalizada do projeto de privatização do grupo de interesse que ocupa a reitoria - representado pela candidatura Mário Saad – significaria um duro golpe ao pouco que ainda resta de valores republicanos e humanistas de nossa universidade.
O balanço do primeiro turno das eleições para reitor revela que professores e funcionários perceberam com clareza o que está em jogo e se manifestaram de maneira maciça contra o enraizamento ainda mais profundo do fundamentalismo neoliberal nas estruturas de poder da universidade. A candidatura da situação recebeu, no entanto, a maioria dos votos dos estudantes – as maiores vítimas da gestão reacionária dos grupos privatistas que instrumentalizam a universidade e seu gigantesco orçamento para servir a lógica dos negócios. A vitória da situação entre os estudantes é reflexo da mobilização dos grupos estudantis de direita e da apatia das forças estudantis comprometidas com a democracia os interesses públicos.
O calendário eleitoral é feito para impedir uma verdadeira discussão sobre as estruturas de poder e projetos de universidade. Ele reflete em sua plenitude a precariedade da democracia universitária. O processo eleitoral transcorre no afogadilho e os interesses em jogo ficam ocultos, misteriosos para o conjunto da comunidade universitária. O desinteresse do conjunto dos estudantes com o processo eleitoral é, portanto, perfeitamente compreensível. Trata-se de mais um sintoma da grave crise do sistema de representação da UNICAMP.
A origem histórica comum das duas candidaturas que disputam a reitoria, ambas contemplando forças que estão nas estruturas de poder da universidade há pelo menos 12 anos, é um motivo adicional para reforçar o sentimento de que não existem diferenças de fundo entre os contendores e, portanto, de que é estéril comparecer à votação. Mesmo assim, as diferenças são significativas. O fundamental reside na forma de tratar o conflito. O método abominável de punir e perseguir de maneira sistemática e implacável quem luta em defesa da universidade pública, reprimindo o movimento estudantil e atacando e desrespeitando os sindicatos dos funcionários e dos professores, é uma prática reacionária que se institucionalizou nos últimos quatro anos.
Nesse contexto, o caráter heterogêneo e contraditório da composição que sustenta a candidatura Tadeu Jorge não justifica tergiversações e sectarismo, pois a significativa participação de setores historicamente comprometidos com a defesa da democracia e do interesse público representa uma ruptura profunda com o fundamentalismo liberal da reitoria Fernando Costa e, em consequência, a possibilidade de uma freada e um contraponto à marcha insensata dos acontecimentos. A própria presença de Tadeu Jorge é um fator diferenciador que deve ser levado em consideração no momento de avaliar a distância que separa as duas candidaturas, pois foi a sua providencial intervenção como então Reitor que impediu a punição dos estudantes que ocuparam a DAC na greve de 2007, reivindicada, com ranger de dentes, pelos setores mais autoritários da universidade. O contraste com o que se assistiu nos últimos quatro anos é gritante.
No momento delicado por que passa a universidade, a derrota da ala radicalizada e truculenta do projeto liberal abriria brechas para uma recomposição do espaço democrático, restabelecendo a premissa fundamental para a defesa da universidade pública: o respeito ao conflito como forma legítima de defesa de interesses coletivos, sem o que é impossível imaginar uma universidade pública. Para evitar a tragédia que representaria o aprofundamento da mercantilização e da criminalização na UNICAMP, em defesa da universidade pública e democrática, conclamamos os estudantes e toda a comunidade a fazer um voto crítico na chapa Tadeu-Álvaro.
Plinio de Arruda Sampaio Junior - IE
José Claudinei Lombardi (Zezo) – FE
Caio N. de Toledo – IFCH

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