EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA E DEMOCRÁTICA
Há
décadas a UNICAMP vem sendo submetida a políticas que têm por objetivo o ajuste
da universidade às exigências do capital e aos imperativos do colonialismo
cultural. O fenômeno faz parte de um processo mais geral de mercantilização e
precarização do conhecimento e ameaça gravemente a universidade pública
brasileira. O aprofundamento e a aceleração desse movimento nos últimos anos
explicam a conversão da universidade num grande negócio e, como consequência, a
escalada de iniciativas para criminalizar as lutas em defesa da universidade
pública e de seu pessoal - estudantes, funcionários e professores.
A
Unicamp vive uma dessas conjunturas particulares em que o processo de mudança
atinge o ponto de ebulição e pequenas alterações quantitativas provocam grandes
transformações qualitativas. A continuidade radicalizada do projeto de
privatização do grupo de interesse que ocupa a reitoria - representado pela
candidatura Mário Saad – significaria um duro golpe ao pouco que ainda resta de
valores republicanos e humanistas de nossa universidade.
O
balanço do primeiro turno das eleições para reitor revela que professores e
funcionários perceberam com clareza o que está em jogo e se manifestaram de
maneira maciça contra o enraizamento ainda mais profundo do fundamentalismo
neoliberal nas estruturas de poder da universidade. A candidatura da situação
recebeu, no entanto, a maioria dos votos dos estudantes – as maiores vítimas da
gestão reacionária dos grupos privatistas que instrumentalizam a universidade e
seu gigantesco orçamento para servir a lógica dos negócios. A vitória da
situação entre os estudantes é reflexo da mobilização dos grupos estudantis de
direita e da apatia das forças estudantis comprometidas com a democracia os
interesses públicos.
O
calendário eleitoral é feito para impedir uma verdadeira discussão sobre as
estruturas de poder e projetos de universidade. Ele reflete em sua plenitude a
precariedade da democracia universitária. O processo eleitoral transcorre no
afogadilho e os interesses em jogo ficam ocultos, misteriosos para o conjunto
da comunidade universitária. O desinteresse do conjunto dos estudantes com o
processo eleitoral é, portanto, perfeitamente compreensível. Trata-se de mais
um sintoma da grave crise do sistema de representação da UNICAMP.
A
origem histórica comum das duas candidaturas que disputam a reitoria, ambas
contemplando forças que estão nas estruturas de poder da universidade há pelo
menos 12 anos, é um motivo adicional para reforçar o sentimento de que não
existem diferenças de fundo entre os contendores e, portanto, de que é estéril
comparecer à votação. Mesmo assim, as diferenças são significativas. O
fundamental reside na forma de tratar o conflito. O método abominável de punir
e perseguir de maneira sistemática e implacável quem luta em defesa da
universidade pública, reprimindo o movimento estudantil e atacando e
desrespeitando os sindicatos dos funcionários e dos professores, é uma prática
reacionária que se institucionalizou nos últimos quatro anos.
Nesse
contexto, o caráter heterogêneo e contraditório da composição que sustenta a
candidatura Tadeu Jorge não justifica tergiversações e sectarismo, pois a
significativa participação de setores historicamente comprometidos com a defesa
da democracia e do interesse público representa uma ruptura profunda com o
fundamentalismo liberal da reitoria Fernando Costa e, em consequência, a
possibilidade de uma freada e um contraponto à marcha insensata dos
acontecimentos. A própria presença de Tadeu Jorge é um fator diferenciador que
deve ser levado em consideração no momento de avaliar a distância que separa as
duas candidaturas, pois foi a sua providencial intervenção como então Reitor
que impediu a punição dos estudantes que ocuparam a DAC na greve de 2007,
reivindicada, com ranger de dentes, pelos setores mais autoritários da
universidade. O contraste com o que se assistiu nos últimos quatro anos é
gritante.
No
momento delicado por que passa a universidade, a derrota da ala radicalizada e
truculenta do projeto liberal abriria brechas para uma recomposição do espaço
democrático, restabelecendo a premissa fundamental para a defesa da
universidade pública: o respeito ao conflito como forma legítima de defesa de
interesses coletivos, sem o que é impossível imaginar uma universidade pública.
Para evitar a tragédia que representaria o aprofundamento da mercantilização e
da criminalização na UNICAMP, em defesa da universidade pública e democrática,
conclamamos os estudantes e toda a comunidade a fazer um voto crítico na chapa
Tadeu-Álvaro.
Plinio
de Arruda Sampaio Junior - IE
José
Claudinei Lombardi (Zezo) – FE
Caio N.
de Toledo – IFCH
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