Milton Pinheiro[1]
A cena política impactada pelo
falecimento do presidente Hugo Chávez se torna extremamente tensa diante das
trilhas e possibilidades que sinalizam as posições em confronto. Temos nesse
momento de tratar das ações entre as diferentes esferas das relações sociais,
entender quem são os atores em disputa, analisar as relações de força e as
práticas políticas em movimento, com as suas cargas ideológicas ocultas.
Na Venezuela se constituiu um
poder alternativo à lógica do capital, pautado na defesa dos direitos do povo e
dos trabalhadores. Mas que sempre enfrentou dificuldades para empreender
mudanças estruturais e profundas rupturas na ordem. Esse movimento de poder
popular (difusamente chamado de chavismo) se confronta, até hoje, com uma
burguesia articulada com o imperialismo estadunidense e sequiosa por vantagens
que, para se estabelecer, será preciso atacar as vitórias das massas que
passaram a ter educação, saúde, cultura, trabalho, lazer e a mais ampla
participação popular.
A burguesia venezuelana
dependente dos negócios do petróleo, historicamente corrupta e golpista, sempre
teve na sua fração industrial um braço armado para colocar o povo e os
trabalhadores na mais profunda miséria. No entanto, o poder popular na
Venezuela advém de uma emergência organizativa contraditória que luta para
fortalecer a presença dos de baixo para fazer o enfrentamento ao projeto
contra-hegemônico da burguesia, que se encontra articulada numa bem elaborada
campanha de contra-informação que distorce os fatos internamente e que mantém
uma audaciosa peça ideológica para difamar o governo bolivariano no exterior.
Trata-se de uma mega estrutura de informação que é distribuída para todo o
mundo.
O país tem, apesar do frentismo
chavista, por um lado, as massas conscientes de seu papel para garantir os
avanços sociais e políticos e, por outro, uma classe dominante disposta a
disputar a hegemonia política no fogo da conjuntura que se abriu. Ambas têm
base social, enquanto classe, para operar o confronto.
A burguesia
contrarrevolucionária na Venezuela faz a disputa nas forças armadas, congrega
ideologicamente os setores da alta classe média, conta com o apoio dos EUA e de
seus satélites na região (Colômbia). As massas populares, apesar das diferenças
políticas, contam com seu poder de mobilização, tem ao seu lado a Guarda
Nacional e faz a disputa nas forças armadas.
A ruptura da institucionalidade
será o passo político do bloco contra-hegemônico e conservador, fomentado pela
direita golpista. Eles apresentarão o discurso da democracia em geral que na
verdade é a democracia de classe, ou seja, da burguesia. A mídia internacional
será multiplicadora dessa postura política. O que fazer?
Vai se abrir uma vaga de
confronto revolucionário. Os blocos históricos das classes em contradição se
movimentarão. O bloco histórico dos trabalhadores, a partir dos seus segmentos
mais conseqüentes, não pode contemporizar. Deve avançar dando demonstração de força
nas atividades de rua, mantendo em estado de alerta a Guarda Nacional
bolivariana e construindo pontes com as diversas organizações populares e
proletárias. Além disso, os operadores políticos internacionalistas do campo
revolucionário devem contribuir, em caso de luta aberta pelo poder, com o mais
amplo apoio internacional, e até mesmo com brigadistas, para sufocar o aparato
da reação burguesa. O momento deve ser de organização revolucionária dos
setores que lutam pelo socialismo na perspectiva de construir rupturas
necessárias.
O cenário de crise pode se
aprofundar e marchar para a luta em campo aberto, pois o inimigo de classe é
forte e conta com o esquema político e militar do campo imperialista. Todavia,
pela convicção e organização do campo proletário, podemos ter numa situação de
dualidade de poder a manutenção da hegemonia popular e o avanço das forças
revolucionárias.
A crise política está aberta,
os blocos de classe se movimentarão e a transição será disputada. É difícil
identificar qual campo sairá vitorioso e as conseqüências do processo. No
entanto, a vanguarda bolivariana e os comunistas deverão ter papel de intenso
protagonismo. A saída não está na capitulação das negociações palacianas ou
parlamentares, é hora de radicalizar o discurso e se movimentar para realizar
impactantes ações políticas. O avanço das lutas dos trabalhadores só será
garantido pelo povo em movimento. E neste momento a democracia de novo tipo
está na ponta do fuzil.
Hasta la victoria siempre, comandante!
[1] Milton Pinheiro é professor
de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
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