Estudante protesta em passeata de professores das redes
municipal e estadual no Rio de Janeiro.
MARCOS DE PAULA/Estadão
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Em 2012, 53 mil pessoas que exerceram o ofício receberam, em média, menos que, por exemplo, ferramenteiros
Paulo Saldaña
Rodrigo Burgarelli
20 de novembro de 2013
SÃO PAULO - Os dados da Rais
revelam uma situação problemática no campo da educação. De todas as profissões
que exigem formação universitária, são os professores os que recebem os menores
salários em São Paulo.
Quando consideradas apenas as
ocupações com mais de 20 mil registros profissionais, o menor salário de nível
superior é o dos professores de ensino fundamental – 53 mil pessoas que
exerciam esse ofício em 2012 receberam, em média, R$ 2,2 mil mensais. É menos
do que ganham os supervisores de telemarketing (R$ 2,6 mil), agentes
penitenciários (R$ 3.3 mil) e ferramenteiros (R$ 3,4 mil).
O cenário é ainda pior quando
se analisa quem ensina certas disciplinas específicas. Um professor de
matemática aplicada no ensino superior, por exemplo, ganhava em média R$ 1,8
mil no ano passado por mês. Quem dava aulas na educação infantil com um diploma
universitário recebia R$ 1,7 mil. E um professor de filosofia no ensino médio
ganhava apenas R$ 1,5 mil mensais.
Valorização do professor? Estudos
já mostraram que o salário médio dos professores no País são 40% menores do que
os profissionais com a mesma titulação de ensino superior. Com base nos dados
da Rais em São Paulo, é possível perceber que um professor de ensino
fundamental recebe 71% menos do um engenheiro civil, no topo da lista.
Especialistas em educação
apontam que qualquer melhora da educação passa pela rediscussão da carreira do
professor. Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é valorizar os
profissionais do magistério das redes públicas da Educação Básica, a fim de
equiparar o rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade
equivalente.
"É uma vergonha que o
Estado mais rico do País apareça com esse índice salarial", diz o
presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em educação (CNTE),
Roberto Leão. Ele lembra que já há uma grande dificuldade de atrair gente para
virar professor. "É uma profissão que não atrai ninguém e hoje o problema
atinge todas as áreas e disciplinas", diz ele.
Escola de qualidade. Em 2012,
existiam 2,1 milhões de docentes de educação básica. O número de interessados
em ser professor está caindo a cada ano, o que torna mais difícil suprir as
demandas.
De 2006 a 2011, o número de
alunos que entraram em Licenciatura e Pedagogia caiu 7,5%. Em 2011, último ano
em que os dados estão disponíveis, foi registrado o menor volume de pessoas que
ingressaram nesses cursos desde 2004. Foram 662 mil matriculados em cursos
presenciais e na modalidade a distância em todo País.
Apesar de a maioria dos
professores estar na rede pública, que centraliza a maior parte das matrículas,
a média salarial registrada no Rais também computa as redes particulares.
"A classe média brasileira precisa compreender que a escola pública brasileira
é dela, devia se somar para cobrar uma escola de qualidade", completa
Leão.
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