Uzunian deixou salas e foi para a academia Clayton de Souza/AE |
Educação. Dados obtidos com exclusividade pelo ‘Estado’ revelam migração média de 8 docentes por dia para as redes municipais e particular e também para outras carreiras; salários baixos, pouca perspectiva e más condições de trabalho motivam abandono
Paulo Saldaña
31 de agosto de 2013
A cada dia, oito professores
concursados desistem de dar aula nas escolas estaduais paulistas e se demitem.
A média de pedido de exoneração foi de 3 mil por ano, entre 2008 e 2012.
Salários baixos, pouca perspectiva e más condições de trabalho estão entre os
motivos para o abandono de carreira.
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Os dados obtidos pelo Estado
por meio da Lei de Acesso à Informação são inéditos. A rede tem 232 mil
professores - 120,8 mil concursados, 63 mil contratados com estabilidade e 49
mil temporários.
A fuga de professores também é
registrada na rede municipal de São Paulo, mas em menor escala. As escolas
paulistanas têm média de 782 exonerações por ano desde 2008.
Proporcionalmente ao tamanho
das redes, o índice no Estado é duas vezes maior. Além disso, a capital
conseguiu ao longo dos anos ampliar em 12% o número de efetivos, enquanto a
rede estadual tem 10 mil concursados a menos do que em 2008.
Os docentes que abandonaram o
Estado migraram para escolas particulares, redes municipais ou dão adeus às
salas de aula. O bacharel em Educação Física Marco Antonio Uzunian, de 30 anos,
decidiu ser instrutor de uma academia e hoje também trabalha em uma empresa.
Apenas um ano em uma escola
estadual na Vila Carrão, na zona leste da capital, foi suficiente para ele
desistir. Uzunian é um dos 2.969 efetivos que pediram exoneração só no ano
passado. É o maior índice desde 2008. "Na escola eu não conseguia tocar um
projeto de verdade, não tem apoio nem companheirismo", diz.
O bolso pesou na decisão.
Depois de concursado, só pôde pegar uma jornada de 10 horas. "Eu não tive
opção de jornada maior. Essas 10 aulas me rendiam R$ 680." A Secretaria da
Educação não respondeu por que há limite de jornada para novos docentes.
Crise. Nem a estabilidade do
funcionalismo público tem impedido demissões. Formado em Matemática pela
Federal do Paraná, Fabrício Caliani ingressou na rede estadual em 2004.
Abandonou em 2009 para ficar em escola particular. "Escolhi ser professor
por vocação e faço meu trabalho bem feito. O que eu ganhava até me aposentar
não ia compensar enfrentar tudo isso", diz ele, que dava aula em Bastos,
no interior paulista.
Mesmo sem ter emprego em vista,
Eduardo Amaral, de 39 anos, pediu exoneração em abril de 2012 - depois de 8
anos na rede. "Para além da questão do salário, jornada e condições de
trabalho adversas, tem o dia a dia da escola. É um ambiente hostil", diz
ele, que hoje trabalha na Câmara Municipal de São Paulo.
Professor da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP), Romualdo Portella considera os
dados muito altos. "Temos reconhecido que a questão-chave da educação é o
professor, mas precisamos ter atratividade de carreira, boa formação, retenção
e avaliação", diz.
A Secretaria da Educação
defendeu que o número de exonerações representa só 1,63% do total de efetivos.
Em relação à diminuição do número de efetivados, a pasta argumentou que
aposentadorias, mudanças e mortes devem ser levados em conta. O governo não
informou quantos concursos realizou desde 2008.
Fonte: Estadão
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