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sábado, 18 de agosto de 2012

A Educação que não interessa a ninguém


Juliana Brito*

Recentemente, foram divulgados os índices do IDEB 2011, uma avaliação que o MEC faz nas últimas séries do Ensino Fundamental e Médio para tentar aferir a qualidade da educação pública. A nota do Ensino Médio baiano que era de 3,3 em 2009 caiu para 3,2 em 2011, cuja meta seria 3,7. Os dados dessa pesquisa apenas confirmam o que é de conhecimento de todos: que a educação no país vai de mal a pior.
Diante dos números, os especialistas e os burocratas são chamados a darem seus pareceres e como não podem resistir, sempre propõem a reinvenção da roda: “O problema está ali, mudemos, criemos novos currículos, enxuguemos as disciplinas, aprovemos novas medidas orçamentárias, contratemos consultores renomados para elaborarem projetos que corrigirão distorções”. Suspeitamos que muitos desses discursos pretendem apenas levantar mais dinheiro público que será desviado entre os apadrinhados políticos a fim de se garantir a perpetuação das velhas figuras no poder.
O que a população em geral terá a dizer sobre o tema? Terá proposições? O tema será motivo de conversa numa rodada de chope ou no almoço de domingo? Será tema da pregação do pastor, do padre ou dos conselhos do pai-de-santo? Os alunos se preocupam de fato por não estarem aprendendo nada? Os promotores de justiça, os juízes, e toda sorte de burocratas terão algo a contribuir para além do blábláblá que já estamos tão acostumados?
Apesar de tantas pesquisas e números parece que ninguém sabe muito bem do que se está falando. Escola, educação, recursos humanos e materiais, função pedagógica, política e filosófica, de que se trata mesmo? Os burocratas e os políticos não sabem o que é essa entidade, a Escola Pública, muito menos os Excelentíssimos juízes, promotores, conselheiros tutelares, psicólogos, prefeitos, vereadores, governadores, deputados, quiçá os secretários de educação. Pelos resultados dos últimos anos, concluímos: eles realmente não sabem! Os pais, os alunos, os trabalhadores que cochilam à noite nos cursos de jovens e adultos também ignoram o que é uma educação de qualidade. Como saber o que é uma coisa se nunca se viu, nunca se experimentou?
A escola não tem sido um espaço propício a uma Educação socialmente referenciada. Superlotadas de problemas e de carências, tem sido apenas um espaço para projetos sem conteúdos e deslocados da realidade dos alunos e da sociedade em geral. Os professores não dão conta de superar tantas dificuldades de aprendizagem e convívio social. Os funcionários, subempregados, se arrastam pelos corredores sem alegria e preocupados se poderão pagar suas contas com seu minguado salário, que em muitos casos não chegam a sequer um salário mínimo. Como a promotoria do estado vai se importar com a educação pública se seus membros não precisam dela? Como vai pressionar o Executivo para cumprir a legislação, se a única coisa que parece importar para a elite desse país é que os meninos fiquem trancados dentro das escolas, ainda que seja por algumas horas? Hoje, a escola pública é apenas um depósito de gente, uma espécie de cárcere temporário. As raríssimas exceções apenas confirmam a regra.
Vejamos o caso dos colégios da Polícia Militar que figuram entre as melhores escolas do país: Nessas instituições não se admite a indisciplina e a reprovação consecutiva é punida com a perda da matrícula. Separa-se dessa forma o “joio do trigo”. Os “adestrados”, os “disciplinados”, os “melhores” permanecem e garantem as boas notas para a instituição. Enquanto isso, nas outras escolas, alunos com todo o tipo de dificuldade e defasagem de aprendizagem tem que estudar juntos, ou melhor, frequentar as aulas. Os pais, muitas vezes, nem querem saber o que está acontecendo dentro da escola. Uns poucos até comparecem às reuniões, porém buscam apenas as notas de seus filhos, como se estas dessem conta de todo o processo. A maior ambição parece ser alcançar a média, ou pelo menos, chegar próximo. O trágico é que muitos não se acham capazes nem mesmo de alcançar o mínimo e desistem de serem melhores. Essa lição se aprende desde cedo, é reiterada na escola com todos os problemas de que ela é portadora.
Para não chorar e fazendo um pouco de troça da situação, afinal como boa baiana sei rir da minha miséria, lembro aqui do Deputado “Tiririca”. Ele também fez uma avaliação para provar ao juiz eleitoral que não era analfabeto. Com muita dificuldade conseguiu um honroso (digo vergonhoso) 3,0 e passou! Recebeu seu diploma de Deputado e agora é membro das comissões de educação no Congresso. Ora, esta história faz coro com o competente Aloísio Mercadante, Ministro da Educação do Brasil, quando afirma: “Estamos avançando”. Afinal, todos os esforços estão sendo tomados para que o Brasil seja o “País de Tolos”, o país de todos os analfabetos políticos. E eu ainda gastando tempo me importando com a Educação. Ela não interessa a ninguém.
*Professora da Rede Pública do Estado da Bahia. Escrito em 17/08/2012.

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