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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A greve dos professores e sua dialética: a luta não acabou

Foto:  blogdolucio.com.br

por Maísa Paranhos*

Queridos colegas!
                               
“Que ingenuidade a minha, pedir a quem
 detém o poder que transforme este poder!”
Giordano Bruno

Desde que esta greve teve início, estamos colocando sobre o seu desmonte, e da aliança político-partidário-sindical entre a APLB e o governo do Estado.
Francamente, acho que APLB é pior do que o governo, pois este é o nosso oponente óbvio e por todos conhecido a quem sempre identificamos como tal, mas a APLB deveria ser a entidade em defesa de nossos interesses, e não é.
Devemos admitir que o coordenador Rui Oliveira tem uma espaço ocupado nos corações mais inocentes e desprevenidos de nossa categoria...
Hoje, em nossa assembleia, vi com horror a tristeza, meio que incrédula, da maioria dos colegas...
Hoje tivemos uma demonstração de como um punhal pode ser enfiado em corações anestesiados pela confiança... Foi assim que senti o dia de hoje, na assembleia....
Hoje, diretoria e comando estavam inseguros com as suas propostas... pois sabiam muito bem o que representa a indecência do que nos foi colocado, e ingenuamente, aprovado, sem discussão, sem debate, sem esclarecimentos....
Hoje a mentira da liberdade de expressão repetiu-se uma vez mais... A “mãe”, acredito, sentiu-se traída e ficou surpresa e revoltada, pois não esperava o que lhe fizeram, ao fazê-la implorar pela palavra, palavra esta, a da “mãe” , altamente utilizada pela APLB e pelo comando quando lhes convinha engrossar os “apoios das bases populares”...
Hoje o rei ficou nu! Tivemos aula prática de oportunismo, descaso, desrespeito, utilitarismo e também da morte de um antigo modelo sindical. Nisso, podemos dizer, sem dúvida nenhuma, estamos avançando!
As máscaras caem, caem, caem...
A pauta mínima, nome este que não quiseram assumir, não precisará de assinatura de nenhum governante para ser cumprida!!! Será um bálsamo para o governo de nossa triste Bahia...
E por que digo isto?
Vejamos, colegas...
1) a readmissão dos colegas punidos é algo que numa greve se daria de forma natural e condição anterior a qualquer negociação... ( para valorizar isto, as falas da APLB/comando querendo engrandecer esta conquista da “categoria aguerrida” começaram a fazer históricos de que demissões não ocorreram desde 1980...). O que “será” mais uma grande vitória de “sua APLB/sindicato”... (para o governo seria altamente trabalhoso abrir novos concursos para o Reda, bem como estabelecer novos contratos com novos Psts...)
2) o pagamento imediato dos salários atrasados – claro que o governo nos restituirá os nossos salários, até mesmo porque tentará amansar a nossa revolta com este “ganho” de salários “acumulados”... o nosso dinheiro está aplicado e provavelmente ainda tiveram um jurozinhos dele às nossas custas...
3) retirada dos processos contra a APLB... alguém acredita, em sã consciência, que estes processos “contra” a APLB serão levados a sério pelo governo? Só o fazem para dar de pretexto ao sindicato no sentido de oferecer-lhes pontos de barganha com o próprio governo, numa grande cena teatral...
Confesso que uma coisa me surpreendeu, de fato, como um objeto que poderia merecer um “estudo de caso”... pasmei: a proposta de que o governo deverá assinar um termo garantido que cumprirá com o que está na “pauta mínima”...!!!
Voltaram a acreditar na assinatura do governo???!!!
Não é para ser estudo de caso?  Qual caso? O estudo de caso de como um sindicato pode ser, despudoradamente, indecente... e não corresponder á sua histórica função!
O governo não precisará assinar nada, pois isto tudo é jogo de cena e aceitará de bom grado o conteúdo da pauta. Provavelmente vai exigir a inclusão da sua proposta que assassina a lei do piso.
Colegas!!!
O pós greve , discutiremos mais tarde... A greve não acabou.
A lei não foi cumprida! As contas do FUNDEB não foram abertas.
E nós não fizemos greve para demonstrar para todos “o quanto somos aguerridos” (e somos! Quanto a isto , não há a menor dúvida! Mas não foi para demonstrá-lo que fizemos greve!!!)
Por que o comando se calou quando colocávamos sobre a necessidade de termos um fundo de greve? Porque todos sabem que a falta de condições materiais que leva qualquer grevista, cedo ou tarde, com salários cortados, a retornarem...
Deixamos a serpente colocar seus ovos...
A estrutura do Estado ficou comprometida com a nossa greve. Pois vimos que este Estado é uma ficção; “para os amigos, os favores da lei, para os indiferentes, a lei, para os inimigos, os rigores da lei!”)
Acreditamos que governo é para governar, que sindicato é para defender os interesses dos trabalhadores, comando é para comandar e lei é para ser cumprida. O óbvio.
Deixemos decantar o óbvio... Lembremos, mais uma vez, o que disse Giordano Bruno “que ingenuidade a minha,, pedir a quem detém o poder, que transforme este poder”. Talvez seja este óbvio que nos falta, deveras, entender...
Um abraço em todos nós, queridos colegas aguerridos, tenazes, amorosos, corajosos e determinados, mas, talvez, tal como Bruno, um tanto ingênuos...
Aprenderemos...
A luta continua, na ALBA, na rua, nas escolas, nos campos, nas construções, na vida ...
Com a verdadeira unidade, fraterna e fundada na confiança e solidariedade...
A greve continua!!!
Professora, em greve, da Educação Pública do Estado da Bahia.

2 comentários:

  1. Maisa , querida professora aguerrida e lúcida.
    QUE BÁLSAMO SÃO AS SUAS PALAVRAS QUE CORAJOSAMENTE NOMEIA FATOS E SITUAÇÕES TÃO LAMENTÁVEIS.
    Esclarecendo pra se dar continuidade com mais discernimento.
    PARABENS e que DEUS continue te iluminando.

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  2. Parabéns, pela forma tão lúcida e emocionada como foi pincelada a verdade sobre o sindicato e os "inocentes nesse texto.

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