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JULIANA BRITO*
Em mais de cem árduos dias de
luta em prol de algo muito simples, a aplicação da Lei do Piso, os professores
da rede estadual da Bahia provocaram e demandaram de seus representantes
sindicais uma defesa contundente dos interesses da categoria. No entanto, não
foi o que assistimos.
Tão longe da capital, eu e
vários colegas do interior, não fugimos à luta. Em várias ocasiões,
confrontamos o governador e mostramos a nossa indignação através de cortejos,
passeatas, idas aos MPs locais, participações em assembleias e produção de
documentos, fotos, vídeos, publicação de textos em jornais impressos e
virtuais... Enfrentamos também quatro meses sem salários, tendo contas
acumuladas, filhos e companheiros passando por privações. Algumas de nossas
companheiras e companheiros de luta, não suportaram os embates e vieram a
óbito, deixando o exemplo de determinação e de indignação. No inicio da greve,
uma das principais lideranças desse sindicato deu uma entrevista e disse ser um
profissional muito requisitado, e por isso, não dependia como nós do salário de
professor para sobreviver. Porém, a maioria dos professores da rede, tem no
salário a única fonte de subsistência. Não que sejam incapazes de ganhar
dinheiro, mas porque, como eu, resolveram investir toda uma vida no ofício do
magistério.
Para quem resistiu durante
tanto tempo, uma ideia embala a nossa persistência: A justiça da reivindicação.
Lutamos por acreditar que a Lei do Piso é constitucional e sua função seria
valorizar a carreira. É muito constrangedor, para não dizer decepcionante, ver
os representantes oficiais da categoria, repetindo as falácias do governo.
Ocultando a verdade ao não explicitar que o PISO é a base, o chão, o patamar
inicial. Se o piso é reajustado, por conseguinte, as paredes e o telhado também
o são, caso contrário, toda a lógica de valorização estaria perdida. Da mesma
forma, negociar o inegociável - as punições e perseguições aos colegas do REDA
e probatórios nos causa perplexidade. Caberia aos senhores o REPÚDIO TOTAL a
essa perseguição iníqua e vexatória. Caberia, sobretudo, a denúncia de que É
ILEGAL PERSEGUIR, DEMITIR E SUBSTITUIR QUEM FAZ GREVE. Isso não poderia ser
ponto de negociação, e sim uma EXIGENCIA. Permitir manobras e maquiagens do
governo (aliado explícito dos partidos cujos membros estão presentes na direção
do sindicato) é, no mínimo, antiético.
Não sou militante
político-partidária, não pertenço a nenhuma instituição ideológica, sou apenas,
como muitas e muitos, uma professora da rede, que apesar de todos os prejuízos
materiais, morais e psicológicos se empenharam com alma e coração nessa luta.
Por isso mesmo, por me considerar independente de disputas partidárias é que
reitero: NÃO POSSO CONCEBER UM SINDICATO QUE NÃO LUTA DE FORMA TRANSPARENTE E
CONTUNDENTE CONTRA O PATRÃO, QUE NÃO O DESMASCARA DE FORMA RADICAL. Assinar
acordos com o governo que comprometem a nossa carreira, já tão vilipendiada e
defender acordos feitos à revelia da categoria e na calada da noite, não é
prática que se preze em tempos tão difíceis como os que estamos vivendo.
Todas as vezes que esse
sindicato se calou e todas as vezes que seus representantes tentaram cercear
opiniões discordantes sobre a condução do processo, todas as vezes em que
falaram à imprensa de forma a confundir, mais do que esclarecer, sabíamos a
quem estavam servindo.
Não faço generalizações, uma
vez que, se chegamos até aqui é porque havia sim vozes discordantes, pessoas
aguerridas e com a ética voltada aos anseios da categoria. No entanto, A
MÁQUINA DO SINDICATO QUE TINHA O JURÍDICO E A IMPRENSA COMO IMPORTANTES
INSTRUMENTOS DE LUTA E DEFESA, NÃO ATUARAM A CONTENTO. PROTELANDO SEMPRE, NÃO
FAZENDO O DEVIDO ENFRENTAMENTO PARA UMA CAUSA TÃO “FÁCIL JURÍDICAMENTE”. Não
lutamos para criar uma lei nova. A lei já estava aí, era necessário apenas
garantir a sua efetivação. Tantos crimes o governo cometeu: improbidade
administrativa; contratos milionários sem licitação; número exorbitante de
contratos REDAS e PSTs sem concurso público; descontos sumários de salários sem
estabelecimento de processos administrativos e ampla defesa; suspensão de
planos de saúde e créditos bancários; assédio moral; criação de lei estadual
retirando direitos, atos estes explicitamente inconstitucionais. Não adianta os
senhores criarem discursos e tentarem encobrir a realidade. Não houve, em
nenhum momento dessa greve, um verdadeiro embate jurídico da APLB contra o
desgoverno de Jacques Wagner.
Parece que a imprensa e a
comunidade esperam apenas um comunicado: “Enfraquecido, o movimento grevista
termina hoje”. Mais uma vez os senhores atuarão conforme o esperado pelo
governo? Mais uma vez trairão o movimento como em 2007? Mais uma vez brincarão
de sentar em mesas de negociação? Mais uma vez abortarão o enfrentamento
jurídico? Mais uma vez calarão os anseios de uma categoria que demonstrou ter
força e ter informações sobre a condução da greve? Mais uma vez minarão toda
possibilidade de um discurso que se opõe à hegemonia no poder? Toda a comunidade baiana e porque não dizer
brasileira espera um posicionamento dos senhores. A caneta e o microfone estão
em suas mãos, de que lado vão ficar? Posicionem-se.
* PROFESSORA DA REDE ESTADUAL
DE ENSINO DA BAHIA
01/08/12
Obrigada Juliana Brito por expressar, tão sabiamente, os meus sentimentos neste momento.Débora Júlia Pereira
ResponderExcluirJuliana Brito, sua carta expressa a indignação de muitos professores. É lamentável a forma com que esta greve está terminando, não me sinto representada e/ou defendida por este sindicato nem pelas instâncias políticas que afirmam reconhecer na EDUCAÇÃO uma prioridade nacional. Obrigada. Renata Alves
ResponderExcluirEu me sinto preocupada com a indifernça da sociedade e com a negligencia dos poderes publicos.
ResponderExcluirA greve não mais se sustentava. Por que temoas que agora nos dividir. A categoria direcionou a greve. Muitos recuaram... o medo, a necessidade, a desesperança, a falta de cunho político... Muitos foram os motivos da volta. Mas desta vez não devemos, não podemos culpar o sindicato. É hora, sim , de nos unirmos para outras ações.
ResponderExcluir´Muitos voltaram. Precisaram voltar. Era hora. Não podíamos deixar demitidos e sem salários sozinhos... Retomemos com força!!!
Essa greve, para muitos fadada ao insucesso desde o início, deixou um ensinamento que só vem mesmo com a experiência, não se aprende nos livros nem nos bancos escolares,o de que temos autoria... Assim como muitos dos nossos alunos, temos perdido muito em apenas repetir os discursos dos outros, imitando as velhas práticas já gastas e ineficazes. Deixa também um imenso desafio em continuar lutando apesar de tudo.O mundo precisa ser melhor.
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