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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pós-graduação, autonomia universitária e greve


Antonio Carlos Maximo*
Há algum tempo ouvi uma intrigante e provocante frase do ex-ministro Tarso Genro: "a universidade é autônoma, mas o Estado é soberano" - disse ele.
Muitas reflexões podem ser derivadas dessa afirmação, mas aqui me restrinjo às Universidades Federais e aos seus programas de pós-graduação controlados de fora, com mãos de ferro, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.
A CAPES, a rigor, é apenas uma instância estatal dentro do Ministério da Educação, assim como, as universidades. Porém, exerce função-meio enquanto as Instituições Federais de Ensino exercem função-fim. Assim sendo, ela deveria ser apenas um órgão auxiliar para as atividades de pós-graduação nas universidades. Ao invés disso, ocorre uma verdadeira inversão de papéis. A instância estatal que cumpre a função finalística vive de joelhos diante daquela que deveria ser apenas subsidiária.
Se o Estado é soberano como a autonomia da universidade pode ser plena? É essa a lógica com a qual pensa os gestores estatais. É verdade que não se trata de uma equação simples no marco do pensamento liberal que fundamenta o nosso modelo de Estado. E não sabendo ou não querendo solucionar tal dilema, o Estado brasileiro e seus organismos centrais acabam assumindo a concepção de que são soberanos em relação à ponta do sistema onde se materializam as políticas públicas.
No caso da pós-graduação, as universidades não têm qualquer poder de direção sobre os seus programas, ao contrário, eles são absolutamente controlados de fora na mesma lógica com a qual o governo regula e avalia o sistema privado.
É simples de entender: um determinado grupo de doutores, de uma determinada área, formula uma proposta de mestrado ou doutorado. As instâncias universitárias dão apenas a chancela burocrática, fazem apenas a tramitação de papéis, porque as regras para a própria elaboração do projeto já são dadas pela CAPES. Ou seja, o projeto já não pode ser original, tem que encaixar no figurino determinado. Encaminha-se o projeto e ela aprova ou não. Se aprovar, durante três anos, o novo programa tem um nota mínima para funcionar e é avaliado, ano a ano, por critérios também da CAPES. Se o corpo docente e discente atendem à todas as normas e regras, o programa é mantido com a mesma nota ou com nota superior. Caso contrário, ele é descredenciado pela própria CAPES. Em resumo, ela autoriza, controla a gestão, avalia, atribui nota, corrige, define os critérios e, ser for o caso, descredencia. As universidades têm autonomia apenas para definir o espaço onde o curso deve funcionar e ceder os professores. Ou seja, em relação à pós-graduação não há que se falar em autonomia universitária.
E os professores desses cursos? Muitos, talvez nutridos por uma ponta de vaidade humana, sentem-se superiores por trabalharem nesse nível de ensino. Reclamam amiúde de muito trabalho, revelam certa fadiga cotidiana, porém, tratam o assunto como se fosse uma espécie de missão, como se os serviços públicos de pós-graduação fossem mais relevantes para a sociedade e mais necessários que a própria graduação. Diminuem sua jornada na graduação em nome cumprir as exigências da CAPES, cabendo ao professor que não se curva às suas imposições, um horrendo castigo: o descredenciamento e o trabalho na graduação que, para muitos, é um verdadeiro purgatório. O temor do descredenciamento aterroriza os docentes que sequer percebem que são governados de fora - ou não se importam com isso.
No caso de movimentos reivindicatórios, sequer percebem que o direito de greve é garantido por lei maior que as meras recomendações da CAPES e preferem a ela se curvar. Na verdade, indiretamente, fazem o discurso da servidão voluntária, o que evidencia o quão distante estamos da tão sonhada e propalada autonomia crítica (CONTRERAS), mesmo em instâncias que deveriam ser a vanguarda da sociedade, como as universidades públicas.
(*) Prof. da UFMT, com doutorado e pós-doutorado em educação.
Fonte: Adufmat

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