APÓS PROTESTOS POLÍCIA REALIZA CHACINA NA MARÉ
As favelas da Maré foram
ocupadas por diferentes unidades da Polícia Militar do Estado do Rio (PMERJ),
incluindo o Batalhão de Operações Especiais (Bope), com seu equipamento de
guerra - caveirão, helicóptero e fuzis - ontem, dia 24 de junho. Tal ocupação militar
aconteceu após manifestação realizada em Bonsucesso pela redução do valor da
passagem de ônibus, como as inúmeras que vêm sendo realizadas por todo o país
desde o dia 6 de junho. As ações da polícia levaram à morte de um morador na
noite de segunda-feira. Um sargento do Bope também morreu na operação e a
violência policial se intensificou, com mais nove pessoas assassinadas, numa
clara demonstração de revide por parte do Estado.
Diversas manifestações estão
ocorrendo em todo o país e intensamente na cidade do Rio de Janeiro. Nas
últimas semanas a truculência policial se tornou regra e vivemos momentos de
bairros sitiados e uma multidão massacrada na cidade. No ato do último dia 20,
com cerca de 1 milhão de pessoas nas ruas, o poder público mobilizou a Polícia
Militar do Rio de Janeiro (PMERJ), contando com o Choque, Ações com Cães (BAC),
Cavalaria, além da Força Nacional. A ação foi de intensa violência contra a
população, causando um clima de terror em diversos bairros da cidade.
Não admitimos que expressões
legítimas da indignação popular sejam transformadas em argumento para incursões
violentas e ocupações militares, seja sobre a massa que se manifesta pelas ruas
da cidade, seja nos territórios de favelas e periferias!
Tal ocupação das favelas da
Maré evidencia o lado mais perverso deste novo argumento utilizado pelos órgãos
governamentais para darem continuidade às suas práticas históricas de gestão
das favelas, de suas populações e da resistência popular. Sob a justificativa
de repressão a um arrastão, a polícia mais uma vez usou força desmedida contra
os moradores da Maré, uma prática rotineira para quem vive na favela. É
importante observar que, quando o argumento de combate a um arrastão foi usado
contra manifestantes na Barra da Tijuca, não houve a utilização de homens do
Bope, nem assassinatos, mostrando claramente que há um tratamento diferenciado
na favela e no "asfalto".
Repudiamos a criminalização de
todas as manifestações. Repudiamos a criminalização dos moradores de favelas e
de seu território. Repudiamos a segregação histórica das populações de favela -
negras/os e pobres – na cidade do Rio de Janeiro.
Não admitimos que execuções
sumárias sejam noticiadas como resultado de confrontos armados entre policiais
e traficantes. Não se trata de excessos, nem de uso desmedido da força enquanto
exceção: as práticas policiais nesses territórios violam os direitos mais
fundamentais e a violação do direito à vida também está incluída nessa forma de
oprimir.
O governo federal também
contribui com o que ocorre nas favelas cariocas, não apenas pela omissão na
criação de políticas públicas, mas também por manter as tropas da Força
Nacional de Segurança dentro da cidade, reproduzindo o mesmo modelo aplicado
pelo governo estadual.
As/Os moradoras/es de favelas e
toda a população têm o direito de se manifestar publicamente – mas pra isso
precisam estar vivas/os. E o direito à vida continua sendo violado
sistematicamente nos territórios de favelas e periferias do Rio de Janeiro e de
outras cidades do país.
Exigimos a imediata desocupação
das favelas da Maré pelas forças policiais que estão matando suas/seus
moradoras/es com a justificativa das manifestações. Exigimos que seja garantido
o direito à livre manifestação, à organização política e à ocupação dos espaços
públicos. Exigimos a desmilitarização das polícias.
Nós do NPC assinamos a nota,
junto com diversas outras entidades. Assinaturas de coletivos devem ser
enviadas para: contato@enpop.net
Fonte: Núcleo
Piratininga NPC
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