Flávio de Castro[1]
Atualmente
a questão dos transportes públicos urbanos atinge não apenas as grandes e
médias cidades como também as pequenas, graças, entre outros fatores, à
especulação imobiliária que expulsa para a periferia os trabalhadores de baixa
renda, constituindo-se para a maioria destes o único acesso ao trabalho, à
escola, aos pronto-socorros, creches etc.
Contudo,
apesar de ser constitucionalmente um “dever do Estado” e de vital importância
social, permanece submetido à lógica do lucro privado, extraído não do serviço
prestado, mas, sim do capital investido, capital esse obtido junto ao BNDES com
juros subsidiados e carência para o início do pagamento.
Em troca,
há décadas as empresas concessionárias oferecem um transporte precário, caro,
não confiável, inseguro e poluente. E quem faz a mediação entre a população
cativa deste péssimo serviço e o capital são os agentes do Estado, os quais
impressionam pela convicção que demonstram quando defendem a atualização das
sempre atualizadas tarifas, usando invariavelmente a força do aparato militar
para garantir os gordos lucros empresariais.
Acobertados
pelos governantes, a máfia dos transportes a tudo assiste enquanto contabilizam
seus lucros e ganhos de capital e, assim, podem diversificar seus investimentos
em segmentos, como o transporte aéreo, utilizando, igualmente, vantajosos
recursos públicos captados junto ao governo.
Para
sustentar essa farsa os burocratas acenam com a planilha tarifária fornecida
pelas próprias empresas, que é na verdade uma inequação, de impossível
contestação uma vez que não há com checar os custos de pessoal e, menos ainda,
os dados previamente falseados pelos fornecedores de combustível, lubrificante,
chassis, motores, peças, pneus etc., cujo principal interesse é manter a
hegemonia do padrão diesel, em detrimento dos transportes de massas sobre
trilhos, mais barato, seguro e menos poluente.
Como o sistema
de transportes coletivos urbanos presta-se, única e exclusivamente, ao deslocamento
da força de trabalho, seja do trabalhador na ativa, seja do trabalhador em
formação: o estudante, quem deve arcar com seus custos são os que dele se
beneficiam: o setor industrial, comercial e bancário. Basta a adoção de uma taxa
de transportes estabelecida a partir de número de trabalhadores de cada
empresa.
Os exemplos
de funcionamento do passe-livre em Tallin,
capital da Estônia, cidade de 416 mil habitantes, em Aubagne e Vitrè (França) e
Hasselt (Bélgica) comprovam que, dentre outros ganhos, metade dos usuários de
veículos particulares aderiram ao transporte coletivo gratuito, o que, além do
ganho social também melhorou, sobremaneira, a mobilidade urbana e o
meio-ambiente.
No Brasil,
se considerarmos que muitos estão trocando os gastos com alimento por passagens
de ônibus; se considerarmos a evasão escolar pela incapacidade financeira das
famílias de bancar o transporte; se considerarmos a longa exposição das
mulheres a toda sorte de violência nas paradas de ônibus, concluiremos que a
cobrança de tarifas é uma iniquidade!
Por isso
entendemos que:
1 – Não se pode falar em
mobilidade urbana sem falar em transporte coletivo de massas de qualidade, ou
seja, seguro, pontual, confiável, não poluente, limpo e com bom atendimento ao
usuário;
2. Não se pode falar em
transporte coletivo de qualidade sem falar em transporte coletivo público estatizado;
3. Não se pode falar em
transporte coletivo público estatizado sem falar em transporte público gratuito
e
4. se pode falar em
transporte público gratuito sem falar em transporte sob o controle dos
trabalhadores.
Todo apoio ao Movimento Passe-livre! Todo o
apoio à luta dos trabalhadores!
[1] Autor da dissertação de mestrado A farsa,
os farsantes e os predadores: a estrutura juridico-politica do Estado burgues e
a politica de transporte coletivo urbano em Campinas : 1878-1999, defendida
no IFCH, Unicamp; membro do conselho consultivo do blog marxismo21.
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