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sábado, 21 de maio de 2011

Do outro lado da mesa

A imagem que nos assalta a consciência nesse atual cenário dos movimentos paredistas que unificam a categoria dos docentes e discentes das quatro Universidades estaduais da Bahia, nos revela uma paisagem antes desvelada e sentida, e que imaginávamos  eventos tenebrosos sepultados no passado, esquecidas nas catacumbas, mas, na verdade, não é bem  assim!.. Aqui, na Bahia, já é factível, não só pelas ‘ciências do além’, mas até mesmo pelas ciências empíricas ,- “ a certeza da volta dos que já se foram”... Muita gente incrédula veio nos contar essas aparições fantasmagóricas, digo, mais que isto, materializadas de facto e de direito. Há testemunhos que dão conta da existência de seres vestidos de um branco cintilante, que cantam e dançam diuturnamente, sob a regência de um fantasma da cabeça branca em download de metempsicose que, ao invés de uma batuta, usa um chicote em uma mão e um pão na outra.Tudo isso se desenrola dentro de um grande circo que se avizinha a um Palácio muito bonito, onde não faltam os manjares, com comensais bem estranhos. Os de fora gritavam: Mais um Bahia... Ou,”nesta sagrada colina, mansão da misericórdia”, dai-nos a graça divina da justiça e da Concórdia. De repente, emendaram, “...Passar uma tarde em Itapoã...” Lá, de dentro do Palácio, se ouvia em estridente uníssono:” ...Alô, Alô realengo aquele abraço, alô torcida do Flamengo, aquele abraço, alô turma da Portela, aquele abraço...” Ainda, “...Olha que coisa mais linda, tão cheia de graça...” Outros emendaram de outro canto:”.. Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil”. E, assim, um coral mais que virtual, se reveza há anos na colina de Ondina. Essas vozes de entes imaterializados ou não blindam este lugar físico ou metafísico, para que o clamor dos desterrados, dos sedentos, dos degradados filhos de Eva, não façam eco aos seus ouvidos.
Quem imagina que sejam, os que vivem a clamar à solera do solar imperial?! Ninguém, senão devotados professores e alunos que fazem o ensino superior no Estado da Bahia real, (ufa! É bom ouvir esta palavra – real – vez que, de um tempo prá cá, mortos vivos estão ressurgindo dos túmulos a aterrorizar-nos...) e que ora estamos em luta, desesperadamente abraçados ao que consideramos a alma da universidade pública, que é a sua autonomia didático-científica e financeira. O contingenciamento do orçamento das nossas estaduais e a cláusula condicionante violentam o principio constitucional que ampara a liberdade sindical, assim como  tutela o caráter autárquico desses centros de ensino superior público, qual seja – a de gerir por si só as suas demandas institucional, administrativa e acadêmica -, promovem um engessamento salarial  até 2015, representando, deste modo, uma proposta indecente, esdrúxula, de mordaça da política sindical. Não querem saber estes reminiscentes do assombro e os seus aliados hodiernos, que as nossas perdas salariais acumulam defasagem em torno de “52,06%, no período de novembro de1990 a março de 2008, consoante dados do ICV/DIEESE, e que a incorporação dos 70% do CET, parceladamente, só representaria um ganho de 18%, considerando o salário de 2006”. Assim sendo, não há nada nessas cifras pra se comemorar, quando os prejuízos reais extrapolam aquilo que o governo alardeia na propaganda oficial e, diga-se, de passagem, cara aos cofres públicos. (Quem sabe me dizer quanto gasta, anualmente, o governo estadual com propaganda?) . Há ai uma manipulação e malversação da informação que não é nada salutar à consolidação do estado de direito. O gestor da res=pública precisa, fielmente, tornar público aquilo que é do interesse público.
O tema em epígrafe descortina para nós um panorama de completo desalento e decepção ante a indiferença e descaso do governo dos “trabalhadores,” dos “companheiros,” com a causa da educação pública, bandeiras de campanhas políticas eleitoreiras, que sorrateiramente velam, unicamente, a vontade de poder. É o que move a moral dos senhores, segundo Nietzsche, dos não ressentidos. Nós somos os ressentidos, por isso temos uma moral de escravos, não é isso que pensam? Na linha de potencializar o Príncipe, cooptam  àqueles que não sobrevivem fora da sombra do poder, sob um guarda-chuvas, que eles chamam de arco de alianças, um  saco de gatos de toda espécie, gerando um corpo amorfo, que se esgrimam por espaço de poder com o loteamento dos orgãos de governo. Uma verdadeira torre de babel, onde as línguas estranhas confundem os atores do varejo por cargos em desencontro frenético.
É inquietante saber que a mesa da solidariedade e da comunhão que caracterizou e marcou o assento outrora dos companheiros, mudou de lugar e se transformou na mesa dos desiguais, onde o patrão faz tudo para aniquilar os seus ex-amigos , agora, submetidos e envergonhados perante àqueles com quem se indispuseram, há um bom tempo, na defesa do então “messias”, hoje, patrão - se silenciam, amargando o seu arrependimento. Outros, viraram as costas à sua categoria, no apego cioso dos cargos que assumem, numa demonstração de um acometimento alzheimeriano.
Que nos chamem quando a mesa não mais levitar, e que os fantasmas dessa “opereta alien” retornem a eternidade e descansem em paz.

·         Sótero Araujo Medrado
·         Filosofia/UESB
·         Coordenador do Café Phylo

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