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segunda-feira, 16 de maio de 2011

A solidão do Movimento Docente baiano


Candido Requião*

Muita coisa tem mudado nesse país desde a eleição de Lula e a consequente ascensão do PT e PC do B ao poder máximo, dentre outros partidos que estão atrelados ao governo. Uma importante foi a transformação dos movimentos sociais e dos movimentos dos trabalhadores através dos sindicatos.
Na Bahia há um movimento bastante peculiar, que me leva a fazer esta reflexão. Até o dia 3 de outubro de 2006, o cenário das disputas sindicais entre o movimento docente e o Governo do Estado, representado pelo então governador Paulo Souto, dava a nós a sensação de que tínhamos um grupo político de oposição ao carlismo e de ativismo sindical que dialogava com relativo estreitamento. Tínhamos até deputados estaduais de oposição àquele governo, combatendo diuturnamente as ações mais malévolas impostas pelo Governo do Estado, sendo denunciadas por partidos como o PT e PC do B na figura de “expressivos e ilustres” parlamentares.
Bem, depois do advento da eleição de Jaques Wagner, surpreendendo a todos e, após o impacto do resultado considerado inacreditável, abriu-se uma cortina de possibilidades de debates entre os movimentos sociais e, principalmente, o movimento docente, que já registrava uma década de luta e reivindicações junto aos governos carlistas para o atendimento das demandas da categoria.
Com um governo que estaria mais próximo e que acreditávamos na idéia de um conhecimento das agruras porque passam as universidades estaduais, passamos da euforia da vitória para a decepção na forma não só do grupo político instalado no Centro Administrativo da Bahia, quanto no assentado no Palácio de Ondina.
Esta pseudo-percepção nos levou a acreditar na possibilidade de uma interlocução entre Governo e Movimento no sentido de restabelecer um diálogo franco para encontrar a solução para a pauta dos docentes.
Entretanto, o tratamento, tanto do governo quanto dos parlamentares que outro dia bradavam fortemente contra o Governo, muda e passa a tratar o movimento docente de forma diferente, como se nós fôssemos os principais inimigos.
Não somos nem amigos nem inimigos, apenas uma categoria que quer ser ouvida. Não pretendemos ter privilégios, mas condições de trabalho que possam refletir a qualidade no serviço que já prestamos à sociedade.
No entanto, as forças que até dia 3 de outubro de 2006 faziam côro às universidades calam-se e passam a evitar nos encontrar e fecham o diálogo que tanto almejávamos. O movimento docente passa a existir de modo silencioso, só, diante de um grupo político liderado pelo PT e PC do B, que passa a ver com outros olhos.
Não encontramos eco sequer nos atuais opositores. Não há como ter como aliados nossos algozes do passado. Não dá para mudar tanto, não dá para nos violentar mais buscando entendimento entre nossos antigos opositores, pois violência maior traz este governo.
O resultado disso tudo é o estado de total abandono por que passam as universidades baianas e também a educação como um todo e que contam com reitores e diretores de escolas completamente entregues ao governo. Sindicatos que vacilam diante da situação, pois os atrelamentos entre dirigentes sindicais e membros do governo, criam todo um clima de desconfiança entre as diretorias e a base.
Mas, diante de todo este cenário desolador, temos a grande novidade na mobilização contra a tirania governamental. O Movimento Discente ressurgiu na UESB e, sem medo de errar, temos a clara consciência de que a deflagração da greve se deu a partir da compreensão dos estudantes da UESB para a necessidade de radicalizar e puxar, literalmente, o Movimento Docente que, através da ADUSB, se mantinha de maneira muito tímida para assumir a dianteira do processo. É inegável que os discentes da UESB foram os protagonistas das mudanças que, neste momento, se processam, inclusive com a instalação da Assembléia Universitária, um fórum onde se pretende que os debates possam ocorrer entre as diversas partes interessadas em discutir a universidade, seus dilemas, de modo perfeitamente transparente e sem a contaminação dos corporativismos de categorias. São os novos personagens de uma história que se faz em cores nunca antes vista no seio do movimento universitário.

*Professor assistente de Física da UESB, campus de Jequié.

Um comentário:

  1. Belo texto, amigo! Pior que conviver com um segmento político que nega o passado de luta, só essa sensação de orfandade pela qual passa o movimento docente na Bahia. Quanto ao movimento estudantil, este sim, soube fazer a revolução!

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