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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Governador da Bahia tenta atropelar professores em greve nas universidades


Prof. Dr. Reginaldo de Souza Silva*

Sem dúvida, precisamos de melhores dirigentes para o país!
Embora possa parecer que somos impotentes para resolver esse problema, poderemos conseguir alguns bons resultados se empregarmos para avaliar o modo como estão dirigindo o Estado da Bahia, por exemplo, o padrão da “Direção Defensiva”.
Uma direção (administração) perfeita significa que realizamos um trajeto (governo) sem acidentes, sem infrações (abusos da máquina administrativa), sem atrasos (decisões políticas corretas no momento exato), sem cortes, sem honorários (boa gestão do dinheiro público) e sem faltar com a cortesia (respeito ás decisões democráticas).
O método básico de prevenção de acidentes consiste em três ações interligadas: 1) prever o perigo e pensar no que vai ou que pode acontecer antes de tomar as atitudes; prever as condições adversas que poderão ser encontradas e as ações incorretas etc. 2. Descobrir o que fazer, pois há maneiras adequadas para se enfrentar cada situação específica; 3. Agir a tempo uma vez que já se conhece o perigo, e saber, qual defesa deve ser empregada, jamais assumindo uma atitude de espera para ver o que acontece.
Para dirigir (ou seja, governar) é preciso observar as condições de iluminação (a transparência das ações), o tempo (as condições políticas), a estrada (as políticas sociais básicas), o trânsito (as demandas sociais e a vontade política de resolvê-las), o veículo (os recursos econômicos) e o motorista (em nosso caso o governador).
Portanto, dirigir um cargo eletivo público com perfeição inclui a habilidade em controlar a sua administração de maneira que não seja envolvida em acidentes, que, como sabemos, podem ser evitados. No caso de GREVES, por exemplo, como esse é o último recurso dos trabalhadores, geralmente a crise que resulta em sua deflagração, sendo bem dirigida, pode ser evitada. Mas, quase sem exceção, os acidentes (as GREVES) resultam de um erro do motorista (em nosso caso o Governo da Bahia).
Isto sem falarmos nos demais “acidentes” (ingerências, contingenciamentos, sucateamento, perda de quadros qualificados) que ocorrem porque o governador (motorista), mesmo percebendo o perigo, espera que o outro envolvido na situação tome as providências.
A população baiana, os docentes da educação básica e da superior não se iludem mais e começam a questionar se, efetivamente, o “motorista” da Bahia e a sua equipe conhecem a estrada de uma democracia alargada, o caminho das relações entre o governo e a gestão das universidades; os procedimentos seguros para “ultrapassagem” dos nós de sua administração; se conhecem o princípio do direito à educação pública e de qualidade para todos. Enfim, perguntamos: o nosso “motorista” sabe mesmo como prevenir as situações de engessamento da democracia, evitando um tombamento caótico na ameaçadora curva da ditadura?
Quando se está dirigindo atentamente é possível prever o que vai ou pode acontecer. A previsão tanto pode ser a curto prazo, como a longo prazo. O administrador (motorista) que faz uma avaliação (observa os relatórios preliminares da CEAES) de sua administração, antes de definir políticas (viagem), está fazendo uma previsão a longo prazo (mediata), enquanto aquele que prevê complicações num cruzamento, uns metros à frente, faz uma previsão a curto prazo (imediata). Uma administração baseada na direção defensiva exige ambos os tipos de previsão, os quais podem ser desenvolvidos e treinados, se tiver a humildade de ouvir a categoria docente, os dirigentes das universidades.
É claro que um governo que não conhece o caminho e, mesmo assim, não tem atenção e não faz as previsões necessárias, mas, ao contrário, age imprudentemente, se mostra inábil condutor nas estradas decisórias deste imenso Estado.
Temos clareza que o condutor (o Governo) do Estado da Bahia tem-se revelado um fracasso, já ultrapassando os pontos permitidos na carteira de habilitação (dada a ele nas eleições). Basta ver a quantidade de TACs – Termos de Ajustamento de Conduta - expedido pela justiça, como exemplo, a fracassada política de atenção as crianças e adolescentes; o caos da segurança pública, da saúde e o desmonte que vem empreendendo na educação pública em nosso Estado.
Como todo condutor que viola as regras, sempre aponta argumentos em sua defesa. É o caso da educação superior. Através de campanha de mídia, tenta jogar a população contra os trabalhadores que lutam pela qualidade da educação, informando que o governo irá conceder os reajustes lineares anuais até 2014, a título de reposição das perdas pela inflação acumulada no ano. Enquanto isso, nas mesas de negociação (coerção, tapeação, enrolação) impõe uma cláusula de congelamento de um salário, há muito defasado, até 2015 (omitindo que a Bahia paga o segundo pior salário da região nordeste).
Da mesma forma, falseando os números, mente à população baiana sobre o aumento de 87,6% no orçamento das universidades, assim como sobre a dita valorização e fortalecimento do ensino público superior da Bahia. No repasse do orçamento anual de cada universidade, nos últimos cinco anos, o que tem sido verdadeiro é a apresentação de números dúbios, fictícios e artificialmente manipulados.
O cinismo do governo Jaques Wagner (Malvadeza) é tanto, que a divulgação das mentiras ocorre paralelamente à contenção de 60% dos recursos necessários para o pleno funcionamento das universidades e à falta de diálogo franco com o movimento docente para a conclusão das negociações salariais.
Se algum número tem sido modificado positivamente em relação à educação superior pública da Bahia (como aumento do número de vagas, cursos, mestrados, doutorados, grupos de pesquisas etc.) isso tem acontecido graças ao compromisso dos docentes universitários no coletivo de suas instituições. O fato é que se poderia fazer mais e melhor, caso, o próprio governo, através da ingerência ditatorial de suas secretarias, não atrapalhasse. 
Assim, a sua inabilidade política e conduta intransigente, forçou os docentes de todas as universidades estaduais da Bahia (UNEB, UESB, UESC, UEFS) a deflagrarem greve, aderindo ao movimento unificado com estudantes e funcionários. Agora somos quatro universidades em greve, exigindo melhores salários e a resolução dos problemas causados às nossas instituições pelo Decreto 12.583/2011 e pela Portaria 001 e outras práticas que ferem a autonomia universitária.
Portanto, senhor governador Jaques Wagner, aja responsavelmente... enquanto é tempo! E não adianta usar o corte dos salários dos professores em greve como “freio de arrumação”. O senhor já sabe que direção defensiva é uma questão de atitude, ou seja, de conhecimento, de atenção, da previsão, da decisão e da habilidade política em relação às universidades estaduais da Bahia.
Na estrada já aparecem as sinalizações de que falta qualidade na educação em nosso Estado e que as péssimas condições de funcionamento das universidades públicas agravarão o tráfego. Preste atenção, senhor governador! Ao guiar, olhe constantemente pelos espelhos retrovisores (os relatórios produzidos pelas IES baianas) e para os lados: como os outrosEstados da região nordeste e como o Brasil, de forma geral, vem procurando valorizar os docentes da educação superior. Essa diferença de tratamento, senhor governador, tem provocado a migração, por ano, de dezenas de docentes para outras instituições de ensino superior.
Lembre-se sempre que mais quatro anos de gestão guiando desatentamente, tentando atropelar quem está alertando para o perigo, significará uma geração prejudicada (milhares de alunos), um retrocesso ao desenvolvimento de nossas universidades em um Estado já cambaleante, como o lançamento do Pacto Pela Educação vem constatar.
No dia da Educação, lançamento de um “pacto” e de comemorarmos o dia do trabalho, o governo do Estado da Bahia, senhor Jaques Wagner (malvadeza ou será safadeza?) TENTA ATROPELAR PROFESSORES EM GREVE NAS UNIVERSIDADES.
Por fim, reflita: aqueles que lhe permitiram obter a habilitação para a direção administrativa e política na Bahia, com certeza, depois de tantas infrações, cursos de reciclagem promovidos pelas mesas de negociação (TACs) e greves, saberão que ao senhor ou a seus representantes não será permitida uma nova habilitação nas próximas eleições.

*Reginaldo de Souza Silva – Doutor em Educação Brasileira, professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UESB. Email: reginaldoprof@yahoo.com.br.

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