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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Atos de Governos II: o fim da greve dos professores da UESB

Itamar Pereira de Aguiar
Prof. Dr. DFCH/UESB
No último dia 17 de junho em pleno período de festas, quando os brasileiros cantam, comem e dança em louvor às entidades do fogo, do ferro e da Justiça, Ogum sincretizado com Santo Antônio e Xangô cuja correspondência simbólica se dá em alguns lugares com São João e São Jerônimo e em outros com São Pedro, 52 professores uns de Jequié, outros de Itapetinga e uns poucos de Vitória da Conquista, em assembléia da categoria deliberaram pelo fim da greve, muitos deles vinculados ao PT, ao PC do B e ao PDT, o que evidencia o conluio político eleitoral de pequenos grupos que, se utilizam da UESB em favor dos seus interesses pessoais e político-eleitoreiros.
São estes mesmos os que vão tecer loas às vitórias alcançadas contra o autoritarismo e em defesa da autonomia universitária, da incorporação da CET, instalação da Estatuinte, mais verbas para a Universidade. Mas, frente aos acontecimentos, o que é mesmo que deve ser comemorado? Provavelmente apenas o desgaste a que o governo Wagner e os seus comandados foram submetidos durante o período da greve, através das ações judiciais julgadas legais, condenando o governo a pagar imediatamente os salários por ele cortado. Na movimentação, principalmente dos estudantes, em diversos atos, o fechamento dos portões da UESB, a ocupação da reitoria, as diversas reuniões conjuntas nos campus da UESB e em outras Universidades, a ocupação da Assembléia Legislativa, a utilização de twitter, e-mail e face book, os atos públicos em Conquista e outras cidades, os artigos publicados em blogs por alguns professores e a criação de uma Assembléia Geral permanente.
Mas, onde fomos fragorosamente derrotados? Nos acordos realizados nas várias mesas de negociação entre os representantes do governo, o clube dos reitores e os “representantes dos professores” das quatro universidades estaduais. Aí a pauta da greve foi, inexplicavelmente, dividida em duas, uma externa, onde se negociou com o governo a revogação do famigerado decreto 12.583 e - perdemos, pois o governador autoritário não o revogou - e outra interna.
A incorporação da CET, sobre a qual já se vinha negociando desde 2009 e pactuado a sua incorporação total até 2014, retrocesso nas negociações, se transformou em incorporação de menos da metade até 2012 e, o restante jogado para as calendas, ou seja, esperar até 2012 para ver como é que fica. A pauta considerada interna: Autonomia Universitária, a Estatuinte, a permanência estudantil e as demais, se negociou com o reitor, e o resultado foi consignado em uma ata questionada durante a assembléia pelos próprios participantes da mesa de negociação como incorreta, na qual não constavam as deliberações de acordo com o que foi decidido, não foi lida e nem aprovada, mas já continha as assinaturas dos participantes da mesa de negociação, aliás, prática rotineira de Departamentos, CONSEP, CONSU e demais órgãos da UESB, nos quais, normalmente, as atas são escritas, lidas e aprovadas quando os seus dirigentes decidem fazê-lo.
Além de tudo isso, o mais assustador é que, mesmo tendo conquistado no Tribunal Regional e no Supremo, decisões favoráveis que considerou a greve legal e condenou o governo autoritário do reizinho Wagner a pagar imediatamente os salários sob pena de multa diária e demais penalidades previstas em lei, e este ter pagado apenas os salários do mês de abril, não pagando devidamente o mês de maio, em flagrante desrespeito às decisões do Poder Judiciário, os 52 professores militantes do PT e dos partidos aliados, contra os interesses da comunidade universitária e, porque não dizer, de toda a Nação brasileira, se posicionaram coniventes com mais este atentado ao Estado Republicano Democrático de Direito. Aliás, o desrespeito à Constituição e as demais leis, o arrocho salarial e outras práticas nefastas tem sido uma constante nas administrações do PT e seus aliados pelo Brasil afora.
O governador disse, no início da greve, que um professor percebe salário de R$ 6.000,00 (seis mil reais) por mês. Mas, vejamos quanto ganha um Professor Adjunto com Dedicação Exclusiva e 34 anos de trabalho: vencimento = 3.013,50; Incentivo por Produção Científica = 301,35; Incentivo Doutorado = 1.808,10; Adicional Tempo de S. = 994,45; CET Magistério Superior = 2.109,45; Adicional Noturno = 12,55; Dif. Adicional 1/3 de Férias = 257,57 e Auxilio Alimentação = 198,00. O recebimento bruto pelos serviços prestados no mês de Abril de 2011 foi de R$ 8.694,97 (oito mil, seiscentos e noventa e quatro reais e noventa e sete centavos), o salário deste professor é apenas de 3.013,50 (três mil e treze reais e cinqüenta centavos), o restante são penduricalhos, quando daqui a um ano se aposentar, receberá apenas o seu salariozinho limpo e seco. Agora vamos aos descontos: Emp. Co. = 839,66; ADUSB/MENSAL = 98,66; CREDIUESB/MENSAL = 10,00; ADUSB/BENAS = 649,58; EMPRES = 287,58; FUNPREV/PREVID = 988,27; IMP. RENDA / IMP RE 27.50 = 1.269,98, os descontos correspondem a R$ 4.143,85 (quatro mil cento e quarenta e três reais e oitenta e cinco centavos), logo, o recebimento liquido deste professor durante o mês de abril foi de R$ 4.551,12 (quatro mil quinhentos e cinqüenta e um reais e doze centavos). Daí concluirmos que o governador não foi zeloso nos seus anúncios orientados pelo marketing.
Nessa greve, os professores não reivindicaram perdas salariais, apenas a incorporação da CET, assim, os salários continuam arrochados, defasados e, o que é pior, sujeitos à cobrança de Imposto de Renda na fonte. A cobrança de Imposto de Renda sobre salários é redução direta de salários, uma prática rotineira por determinação do Governo Federal, admitida como legal por todas as instâncias de Poder: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Acontece que salário não é renda, é remuneração por uma jornada de trabalho. Ao admitir a cobrança do Imposto de Renda sobre salário, desrespeitam os princípios que norteiam a elaboração das normas, os conceitos, desconsiderando os fundamentos da Filosofia do Direito, e incidem em abusos contra os menos remunerados, os professores que pagam os demais impostos, taxas e juros extorsivos. Se somarmos tudo isso, veremos que, em torno de 70% do que ganhamos, o governo e o sistema se apropriam, e também tem motivado pedidos de demissões e transferências, a não inscrição de professores em concursos e mais um contrato de trabalho com universidades particulares. Assim, abaixo “o modo petista de governar”!
Ao deliberar isoladamente sobre o fim da greve, os professores desrespeitaram os estudantes e romperam com o pacto da ação conjunta, em resposta, coerentemente, os estudantes continuam em greve e ocupando a reitoria da UESB, na luta em defesa da Autonomia Universitária, contra o autoritarismo e na busca de respostas para os demais pontos de pauta que justificam a luta. Apesar de continuar “tudo como dantes no quartel de Abrantes”, ao perceber que o nosso presente é injusto e o futuro, um futuro de dívidas, a sociedade brasileira vem aos poucos reagindo.

3 comentários:

  1. Itamar, lúcidas suas considerações sobre o "acordo" realizado, sobre o salário não pago de maio e a nudez da ADUSB sobre a questão, sobre o desrespeito com o movimento estudantil, sobre os números do contracheque (pensei anteriormente em expor o meu, mas prof. auxiliar sem DE não vale, o que vc mostrou, sim, um prof. adjunto com 35 anos de serviço!) é bom que todos tenham acesso, só espero que não tire o estímulo dos que pretendem progredir na carreira, pior é parar no caminho... Reação! eis a palavra! difícil acreditar nela depois do "acordo" assinado, do "acordo" que "fizemos". O que esperar do futuro? Que os nossos alunos possam resistir e apostar mais no presente do que nós, professores, nas mesas de negociações...

    Ana Sayonara (UESB/UNEB)

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  2. Esperar algo do futuro é pedir de mais, só gostaria que tivesse aula, preciso continuar minha vida. Agora não é greve dos estudantes e sim uma greve do movimento estudantil, pela a quantidade de alunos não envolvidos soma bem mais que a metade! Chega, o mundo é preto e cinza e não colorido como algumas pessoas estão achando!

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  3. A suspensão da greve foi deliberada pela categoria, porque se esgotou as finalidades que determinaram a sua deflagração, com a celebração dos Termos de Acordo e de Compromisso, devidamente avalizadas pelas Assembléias da categoria realizadas em Jequié e Itapetinga nos dias 07 e 14/06/2011, sem que houvesse recurso de reapreciação da decisão por quem quer que seja. Vencida a matéria principal,nem a pauta interna, nem o descumprimento das decisões judiciais pelo Governo Jaques Wagner, em relação ao pagamento do salário de maio de 2011, conseguiram convencer a categoria a manter a greve por tempo indeterminado, apenas na UESB, considerando a necessidade de se manter a unidade do Movimento Docente, conquistado no Fórum das Associações Docentes, para os próximos embates que virão.
    Por outro lado, a tese pela celebração dos acordos venceu por um placar de 36 a 31 votos, se registrando a ausência e retorno antecipado de muitos defensores da tese de rejeição. Compreendendo as especificidades das rotinas cotidianas dos professores militantes, mas não posso admitir que elas determinem a condução do Movimento Docente, pois ele é dinâmico e naõ pode parar para esperar os ajustes nas agenda de alguns professores que perderam o foco e a oportunidade de travar o bom combate.
    Por último, mesmo não superando a dicotomia que perpassa o movimento docente na UESB, avalio que os resultados obtidos foram resultantes da efetiva correlação de forças que se estabeleceu no plano interno, entre tendências que se aglutinam no Movimento Docente da UESB, e no plano externo, entre a categoria e o Governo Jaques Wagner, portanto, mesmo não tendo sido contempladas as perspectivas e expectativas originárias de incorporação da totalidade da CET sem clausula de mordaça e a revogação total ou derrogação parcial do Decreto 12583/2011, combinadas com o atendimento imediato da pauta interna, avançamos para acumular forças para os próximos embates que virão, não só em 2013, mas no próximo ano, quando haveremos de reivindicar o percentual de reposição salarial que recomponha as efetivas perdas inflacionárias, juntamente com as categorias vinculadas às áreas de saúde e segurança pública.
    Destaco ainda que conseguimos arrancar nessa oportunidade a implementação imediata dos processos de progressão, promoção e mudança de regime de trabalho de 385 professores da UESB, que se encontravam represados há mais de uma ano, alguns com mais de 2 anos, sem previsão para a sua implantação em folha. Por outro lado, se as decisões judiciais favoráveis tivessemn sido implementadas antes da deliberação das Assembléias das 4 Associações Docentes, havidas na primeira semana de junho de 2011, talvez ainda estivéssemos em greve até alcançarmos a vitória pretendida, mas com a categoria vulnerável e esgotada, não conseguimos convencer a maioria presente nas Assembléias dos dias 07 e 14/06/2011 a continuar na greve e não celebrar os acordos....são os aprendizados de uma das maiores greves do Movimento Docente nos últimos 10 anos, apesar dos pesares!

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